top of page

UMA JORNADA EM BUSCA DO “SOCIAL” NA ESTRUTURA INFORMACIONAL

A Ciência da Informação (CI) atua como uma área do conhecimento que lida com vários aspectos e registros informacionais (propriedades, comportamentos, processos, sistemas e outros) e permite uma ampla variedade de pesquisas, principalmente, interdisciplinares desde a sua própria origem. Na atualidade, esse campo realiza investigações sobre o funcionamento dos processos de seleção, organização, disseminação, acesso, uso e preservação da informação, os quais, muitas das vezes, são alcançados apenas por uma parte do segmento da sociedade.

No Brasil, a CI é considerada, em termos institucionais (de acordo com classificações de agências como Capes e CNPq e divisões internas nas várias universidades), como: “Ciências Sociais Aplicadas I” e/ou “Ciências Humanas e Sociais Aplicadas”, respectivamente. De acordo com Araújo (2003, p. 21): “em várias instâncias, existe um espaço específico para a discussão da natureza social dos fenômenos informacionais”, a citar: algumas linhas de pesquisa dos programas de pós-graduação em CI (Informação e Sociedade, Informação e Cultura, e Ação Cultural), e nos grupos de trabalho com esse tema em associações e congressos como o Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (ENANCIB). Mas, em se tratando de termos institucionais e/ou terminológicos esse autor afirma que é indiscutível a natureza social da ciência da informação, em contrapartida “em termos propriamente teórico-epistemológicos essa inserção não é exatamente óbvia” (ARAÚJO, 2003, p. 21).

A partir dessa configuração, podemos inserir alguns questionamentos: Por que nos parece tão complexo caracterizar e/ou delimitar a CI epistemologicamente dentro do campo das ciências sociais? Recorrendo aos estudos de Blaise Cronin(2008), iremos perceber que os conceitos pujantes que compõem o cerne da CI (conhecimento, informação, e representação) não são de “propriedade” da CI. Esses conceitos são, sem dúvida, “adições criteriosas” de perspectivas e abordagens adotadas de disciplinas - ciência da computação, linguística, filosofia, psicologia, sociologia, ciência cognitiva, dentre outras já estabelecidas (SILVA; ARAÚJO, 2012). Exemplos como as noções de “sociedade”, “indivíduo”, “inclusão”, “democratização”, têm sua constituição “sólida” a partir dos aportes de uma “sociologia forte”, e, ao mesmo tempo, são apropriados e ressignificados no âmbito dos estudos informacionais. Qual a margem de troca, de inovação ou de repetição destes termos adotados aqui e acolá como conceitos?

Partimos do pressuposto que os processos de mediação, disseminação, acesso, uso e preservação da informação, quando apropriados e/ou democratizados por pessoas, grupos, entidades, instituições, organizações e demais afiliações, podem servir para reforçar e atingir os objetivos desse campo do saber em um nível micro(individual) para modificar as estruturas cognitivas gerando conhecimento, e, em um nível macro(coletivo) para (re)formular, modificar e intervir nas estruturas sociais produzindo novos conhecimentos que viriam a beneficiar toda a sociedade. Essas explanações reafirmam os objetivos traçados pela Ciência da Informação desde a sua primeira formulação surgida a partir de trabalhos apresentados no “Georgia Tech”, e atualmente, se configuram no que chamamos de conjunto de estudos sociais da informação.

Algumas fontes:

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. A ciência da informação como ciência social. Ciência da Informação, v. 32, n. 3, p. 21-27, set./dez. 2003.

BAUMAN, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Edires, 2010.

BEZERRA, Arthur; SALDANHA, Gustavo S. Sobre Comte, Durkheim e Tarde em Otlet: o papel do positivismo na consolidação dos estudos da informação. Fronteiras da Ciência da Informação. Brasília: IBICT, 2013. p. 34-56.

DEMO, Pedro. Ambivalências da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 37-42, maio/ago. 2000.

DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa In: ______. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Tradução de Sandra Regina. Porto Alegre: Artmed, 2006. Cap. 1, p. 15-47.

DOMINGUES, Ivan. Epistemologia das ciências humanas. tomo 1: positivismo e hermenêutica. São Paulo: Loyola, 2004.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

GONZALEZ DE GOMEZ, Maria Nélida. A configuração temática da ciência da informação do instituto brasileiro de informação em ciência e tecnologia. 1982. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – UFRJ/ECO - CNPq/IBICT, Rio de Janeiro, 1982.

MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MOREIRA, Eliana Monteiro; OLIVEIRA, Roberto Veras de; Sentidos da globalização: um desafio ao pensamento sociológico. In: ______. (Orgs.) O fenômeno da globalização em perspectiva local e multidimensional. João Pessoa: EDUFPB, 2009. p. 9-35.

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

ROUBAKINE, Nicolas. Introduction a la psychologie bibliologique; v.1 Paris: Association Internacionale de Bibliologie, 1998

TOURAINE, Alain. O retorno do actor: ensaio de sociologia. Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page