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COOPERAÇÃO INTERNACIONAL: uma análise das relações IFLA-UNESCO

Em 2017, IFLA, International Federation of Library Associations and Institutions, e UNESCO, United Nations Educational, Scientific and Cultural Organisation, duas organizações de grande peso para a Biblioteconomia e a Ciência da Informação em âmbito internacional, completam 70 anos de parceria. No decorrer desta longa relação, diversos programas de grande relevância para a promoção, acesso e preservação do patrimônio cultural e intelectual foram realizados. No congresso internacional da IFLA realizado em Helsinki em 2012, Peter Johan Lor apresentou um panorama da evolução desta parceria, de seus principais projetos e algumas perspectivas para futuras colaborações entre as duas organizações.

A fundação da IFLA ocorre em 1927, quase duas décadas antes do surgimento da UNESCO. Na verdade, a Federação manteve relações estreitas com o Comitê para a Cooperação Internacional da Liga das Nações, predecessor direto da UNESCO segundo afirma Lor (2012). Dois anos após a fundação da UNESCO, ocorrida em 1945, um “acordo de reconhecimento mútuo” foi proposto pelo então presidente da IFLA, Wilhelm Munthe. O acordo formal assinado por ambas as instituições previa, por exemplo, a aceitação mútua de princípios, tarefas e objetivos de ambas as partes, a troca de informações e suporte financeiro para a execução do programa da IFLA. Segundo Lor (2012, p. 3) o suporte oferecido pela UNESCO teria sido motivado pela convicção da mesma em relação à importância das bibliotecas para os ideais da Organização Intergovernamental. Tal suporte teria assumido várias formas: (1) reconhecimento da IFLA como corpo de máxima representação da world’s library community, o que proporcionaria o crescimento da Federação; (2) representação, atribuindo à instituição bibliotecária não-governamental status consultivo perante a UNESCO, permitindo ampla participação da IFLA nas discussões promovidas pela Organização das Nações Unidas; (3) subvenção direta para publicações da IFLA, bem como algumas conferências e seminários; (4) financiamento a projetos e investigações profissionais (como por exemplo as regras internacionais de catalogação) que permitiram a disseminação de boas práticas de profisisonais da informação; (5) orientação em relação à procedimentos e práticas formais da Federação (LOR, 2012).

Segundo Lor (2012), o ápice das relações IFLA-UNESCO foi o período compreendido ente 1947 e 1977, em que a cooperação entre as instituições abrangeu questões como a coordenação de atividades com outros organismos que também recebiam suporte da UNESCO, a saber, a Federação Internacional de Informação e Documentação - FIID, a International Association of Music Libraries - IAML, International Council on Archives e a International Organisation for Standardsation - ISO. Questões técnicas do âmbito biblioteconômico, como estatísticas, empréstimos entre bibliotecas, intercâmbio de publicações, legislação para bibliotecas públicas e padronização da catalogação também foram pauta das colaborações entre IFLA e UNESCO. O desenvolvimento das bibliotecas em países subdesenvolvidos foi outra tema de grande relevância para ambas as organizações no referido período, assim como a ideia das políticas nacionais de bibliotecas e informação, representada especialmente pelos conceitos UNISIST (World Science Information System) e NATIS (National Information Systems).

O período seguinte do relacionamento entre IFLA e UNESCO seria marcado, segundo o autor, por uma mudança na ênfase desta última em direção à Documentação, o que teria demovido as bibliotecas da posição central nas relações entre as referidas instituições. Neste ínterim, de 1977 a 2000, destaca-se o surgimento do Programme Général de l’Information – PGI, que reorganizava e reagrupava as atividades relacionadas ao UNISIST e ao NATIS, enfatizando a assistência aos países desenvolvidos. Neste período, destacaram-se ainda o Programa de Preservação e Conservação - PAC e as ações das organizações em prol do Controle Bibliográfico Universal. No mesmo intervalo os projetos da IFLA passaram a contar com uma base de apoio mais ampla, reduzindo a dependência da mesma em relação à UNESCO. Os anos 1990 foram marcados por uma orientação da UNESCO cada vez mais voltada para o campo informacional e a Divisão do PGI se tornou parte de um novo setor na Organização, o Sector for Communication, Information and Informatics - CII, apresentando uma nova ênfase em temas como acesso à informação, seu gerenciamento e uso efetivo. Com a fusão do PGI e do Intergovernmental Informatics Programme - IIP, que resultou na criação do Information for All Programme - IFAP em 2001, inicia-se uma nova fase para as ações conjuntas de IFLA e UNESCO, marcada por colaborações em áreas prioritárias do IFAP, como preservação da informação e letramento informacional (LOR, 2012).

De modo geral, o autor sugere que ao longo dos anos das relações IFLA-UNESCO, esta última moveu gradativamente o seu foco do universo das bibliotecas para questões relacionadas à Documentação e, posteriormente, à sociedade da informação e do conhecimento. Além disso, outros fatores como uma maior dependência, por parte do universo bibliográfico, em relação aos mercados, bem como o surgimento de novos atores e fontes de informação e influência no cenário informacional (OCLC, Internet Governance Forum, movimento Open Access, International Internet Preservation, União Europeia, entre outros) teriam contribuído para um distanciamento relativo de ambas as organizações. Merece destaque ainda o fato de que o mundo atual altamente conectado apresenta novas possibilidades de compartilhamento de boas práticas e de acesso à informação que não perpassam necessariamente pela suporte da UNESCO à seminários, workshops e publicações como outrora. Segundo Lor (2012), o declínio relativo da UNESCO como centro de influência indica que a mesma teria cumprido seu papel no desenvolvimento de um sistema internacional de bibliotecas e serviços de informação. Ainda assim, oportunidades frutíferas de cooperação entre IFLA e UNESCO permanecem como possibilidades reais no contexto da cooperação internacional no âmbito informacional.


LOR, Peter Johan. The IFLA-UNESCO partnership 1947-2012. IFLA Journal, vol. 38, no. 4, 2012, p. 269-282. Disponível em: < http://hdl.handle.net/2263/37151>. Acesso em: 02 maio 2017.

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