Dos falsos antagonismos informacionais (2): do "futurismo" à "miséria culturalista&qu
Duas formas de inventar uma epistemologia neoliberal para os estudos informacionais estão na consagração do futuro (e nunca o presente, sujo e socialmente falido) como horizonte e tomar a cultura pela sua miséria a-evolutiva no plano vertical, e não pela sua diversidade no horizonte que nos desloca...
1) O “futuro” (progresso) como “horizonte”: “distinção sócio-epistêmica” julgada a partir da construção da “inferioridade” do patrimonialismo bibliográfico diante do futurismo das redes eletrônicas, sustentada pelos instrumentos de medição iluministas-positivistas. Por trás, por exemplo, do “mito” dos paradigmas de Miksa (1992), constrói-se aqui o argumento de que o paradigma da Biblioteconomia era o da preservação ou da patrimonialização, enquanto o da CI era o do acesso, a) como se ambos fossem excludentes, b) como se o primeiro não fosse, no fundo, pauta estrutural de uma guerra biblioteconômica do século XIX, entre anglofonia e francofonia, e c) como se não existisse uma dependência teórico-técnica da “patrimonialização eletrônica” para o sucesso epistêmico da “consagração” da ideia de information retrieval;
2) A “miséria culturalista” perante o “milagre tecnicista”: “distinção sócio-epistêmica” estabelecida a partir da construção da “inferioridade” da “ciência enciclopédica” e sua incapacidade de se tornar “casta epistemicamente” – das Humanidades, em linhas gerais, mas também das ciências sociais, como é o caso do confronto da biografia de Jesse Shera e seus futuros “concorrentes” -, diante da “positividade natural” das ciências exatas, traduzida na invenção social da influência da Teoria Matemática da Comunicação e da Cibernética nos domínios da organização do conhecimento (estas, em um primeiro momento de construção da expressão information science, raramente citadas), quando Paul Otlet já havia discutido a questão sintática e a “geração miraculosa estadunidense” do 1870 já havia discutido o conceito de informação no estudo das comunidades científicas e desenvolvido diferentes técnicas de registro, migração e acesso aos conteúdos e continentes.
Algumas fontes
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