ÓrbitaLIS n.23: Transparência e Pós-verdade
Estamos agora muito preocupados com o que chamamos de 'pós-verdade' e tendemos a pensar que o desprezo pelos fatos cotidianos e a construção de realidades alternativas sejam algo novo ou pós-moderno. Contudo, há pouca coisa aqui que George Orwell não tenha captado há sete décadas com sua ideia de 'duplipensar'. Dentro dessa filosofia, a pós verdade restaura precisamente a postura fascista em relação à verdade — e é por isso que nada deste mundo espantava [Victor] Klemperer ou [Eugène] Ionesco. Os fascistas desprezavam as pequenas verdades da experiência cotidiana, amavam palavras de ordem que ressoavam como uma nova religião e preferiam mitos de criação à história ou ao jornalismo. Usavam os novos meios de comunicação, representados na época pelo rádio, para criar uma propaganda que apelasse aos sentimentos antes que as pessoas tivessem tempo para pensar. E hoje, como naquela época, muitas pessoas confundiram a fé num líder cheio de enormes defeitos com a verdade sobre o mundo em que todos vivemos. A pós-verdade é o pré-fascismo.
— Timothy Snyder (2017, p. 68-69)
A atual massa de informações e comunicação multimídia apresenta as coisas mais como 'acumulação' [Ge-Menge] do que como 'enquadramento'. A sociedade da transparência não só carece da verdade, mas também da aparência simbólica. Nem a verdade nem a aparência simbólica são translúcidas: somente o vazio é transparente por inteiro. Para evitar esse vazio, uma massa de informações é colocada em circulação. A massa de informações e de imagens oferece uma completude na qual ainda se reconhece o vazio. Mais informação e comunicação por si só não iluminam o mundo. [...] Quanto mais liberdade é dada à informação, mais difícil se prova examinar o mundo. A hiperinformação e a hipercomunicação não trazem a luz para a escuridão.
— Byung-Chul Han ([2012]* 2015, p. 40-41, tradução nossa)
Na Conferência Anual da ALA de 1973, a IFRT foi formada como o programa de membros e atividades pela liberdade intelectual da instituição. Segundo o suplemento "A History of ALA Policy on Intellectual Freedom", a IFRT fomenta três premiações com relação ao tema da liberdade intelectual: o Gerald Hodges Intellectual Freedom Chapter Relations Award e o John Phillip Immroth Memorial Award for Intellectual Freedom são anuais, enquanto o Eli M. Oboler Memorial Award é concedido a cada dois anos ao melhor trabalho da área de liberdade intelectual publicado no período.
Fonte: American Library Association (ALA).
Uma breve trajetória histórica das fake news, do século VI em diante, segundo o bibliotecário e historiador cultural Robert Darnton.
Fonte: The New York Review of Books (13.02.2017)
No documento são reafirmadas as responsabilidades dos bibliotecários e da ALA "enquanto informações imprecisas, distorções da verdade, limitações ao acesso e a remoção ou destruição de informação em domínio público são um anátema para a ética da biblioteconomia e para o funcionamento de uma democracia saudável, e alguns governos, organizações e indivíduos fazem uso de desinformação na busca por vantagens políticas ou econômicas para impedir o desenvolvimento de uma cidadania informada..." (tradução nossa). Citado em Fear Itself, por Frederic Murray, no Intelectual Freedom Blog da ALA.
Fonte: American Library Association (ALA) (24.01.2017)
Painel fomentado pela IFRT, reunindo o viés editorial e acadêmico no debate do acesso aberto. Citado na última edição publicada do relatório da IFRT, verão 2017, bem como no artigo de Frederic Murray.
Fonte: American Libraries Magazine (25.06.2017)
*A data entre colchetes refere-se à data de publicação original do texto.
REFERÊNCIAS
HAN, Byung-Chul. The Society of Information. In: ______. The Transparency Society. Translated by Erik Butler. Stanford: Stanford University Press, 2015. p. 37-41.
SNYDER, Timothy. Acredite na verdade. In: ______. Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente. Tradução: Donaldson M. Garschagen. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. cap. 10, p. 63-69.