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A fundamentação simbólica da Ciência da Informação

"Os fatos do acontecer são sempre simbólicos, pois o acontecer é sempre símbolo das leis universais que o homem, bem ou mal, capta; são símbolos da lei da alternância, são símbolos, afinal, do cósmico, com o qual, teológica e religiosamente, as religiões constroem a sua simbólica." (SANTOS, 2007, p. 148)

Entre os dias 03 e 07 de junho de 2015, na Áustria, realizou-se o 4º ISIS Summit Vienna 2015 – The information society at the crossroads: response and responsibility of the Sciences of Information.

Na ocasião, Rafael Capurro (2015) reafirmou o decurso filológico-filosófico de sua argumentação filosófica, reencontrou Aristóteles e os desdobramentos de seu De anima, o mesmo filósofo quem “visitara” em 1992 para afirmar ser a Ciência da Informação uma subdisciplina da Retórica e postular a relevância dos elementos do modelo hermenêutico para os estudos informacionais.

Explorando o contexto uma abordagem interpretativa, o ponto de inflexão de Capurro (2015) nos conduz ao jogo de destituição do valor ontológico da informação entre Antiguidade e Medievo, para um certo “diálogo filosófico intercultural”.

Apresentada em Viena, a atual proposta hermenêutica de Capurro (2015) – sua information as hermeneutic as – nos remete ao desafio cassireriano da passagem de uma “crítica da razão” para uma “crítica da cultura”. Trata-se de um modo de abordar a os estudos informacionais como fruto de constantes processos interpretativos.

E como podemos, historicamente, reconhecer esta questão hermenêutica quando apontamos para a construção de uma racionalidade pós-bibliográfica, tratada como informacional, dada entre o século XIX de Peignot-Otlet e o século XX de Otlet-Shera? Uma certa “racionalidade informacional” afirma-se constituir-se em meados do Novecentos, trazendo em sua bagagem a unidade do objeto informação como marca sua “verdade”, o onto a conhecer.

Esta racionalidade demonstra-se condicionada, a partir de Otlet (1934), ao julgo de regularidades, mas ao mesmo tempo, desde Peignot (1802a,b), influência determinante no pensamento otletiano tanto no ponto de vista epistemológico quanto no ponto de vista geopolítico, as margens de um culturalismo vasto e crítico se apresenta, colocando em debate o “político” e o “social” a partir dos artefatos simbólicos e sua vivência.

O jogo, jamais linear, anti-paradigmático, da epistemologia histórica da Ciência da Informação (CI), nos leva à possibilidade de repensar uma crítica da razão informacional também como uma crítica da cultura da racionalidade, bem como reconhecer e refletir uma crítica da cultura, no terreno do simbólico, dentro do contexto atual dos estudos informacionais.

A possível crítica da cultura no escopo da epistemologia da CI nos remete, ainda, a um dos pressupostos neodocumentalistas (provavelmente o seu principal argumento): a condição de uma materialidade expressa quando da construção da noção de informação dentro das distintas comunidades discursivas da CI. Seja advindo de um ponto de vista sociológico, seja quando oriundo de viés administrativo, seja fundado em uma estrutura tecnológica, a condicionante materialista se apresenta como forma e manifestação simbólicas.

Algumas fontes

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