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Lugares e egométricas: outros eus

Metaolhares sobre um certo domínio no espelho

O estudo dos loci epistêmicos está inserido nas discussões acerca do meio acadêmico e científico, sobre a existência e o espaço onde os discursos sobre as teorias, os modelos, os métodos e as técnicas se encontram, em aproximação ou em distanciamento.

Historicamente, a Organização do Conhecimento, como uma gnosologia específica na árvore geral dos saberes, construiu egométricas - medidas de si - como metodologias para se autoconhecer. A linha analítica procurou demarcar o desenvolvimento do próprio domínio epistêmico em questão.

Seja pelo intuito de compreender o desenvolvimento e o direcionamento da ciência, seja pelo que podemos nomear de propósito intelectual de determinar a natureza e o escopo do conhecimento humano, seja pela necessidade de representação das dinâmicas sociais e culturais das práticas científicas. Essas necessidades sempre existirão por diversas razões que fundamentam a tentativa de dissecar, examinar e entender a verdadeira dinâmica e proporção de uma ciência. Ou seja, estamos aqui no plano epistemológico, propriamente dito.

Etimologicamente, “epistemologia” significa discurso (logos) sobre a ciência (episteme), que consiste no segmento da filosofia que investiga a natureza e a origem do conhecimento. De acordo com Tesser (1995, p.92) sua tarefa principal consiste “na reconstrução racional do conhecimento científico, conhecer, analisar, todo o processo gnosiológico da ciência”. Ainda nas palavras do autor, podemos descrever que ambicionamos traçar um “estudo metódico e reflexivo do saber, de sua organização, de sua formação, de seu desenvolvimento, de seu funcionamento e de seus produtos intelectuais” (TESSER, 1995, p.92).

O que podemos extrair do significado desse conceito para a discussão de uma teoria do conhecimento para a própria organização de tal conhecimento espelhado em uma materialidade é a percepção de um estudo crítico dos princípios, das hipóteses e dos resultados de uma determinada ciência ou de parte de seus coletivos de produção científica reunidos sobre macroconceitos, a saber, os coletivos em organização do conhecimento e seus resultados investigativos. Especificamente, procuramos compreender o escopo de discursos concentrados sob a noção de “organização do conhecimento”.

A Organização do Conhecimento é abordada, assim, como um coletivo de pesquisadores, de abordagens e de conceitos dispersos em e construtores de "lugares de fala", coletivo tal que apresenta ainda bastante divergência no que concerne seu corpus de atuação prática, sua rede teórica de autores e sua teia de conceitos e definições.

A descrição do percurso e desenvolvimento da Organização do Conhecimento como um coletivo acadêmico-científico traz à tona as questões epistemológicas sobre seus loci de práticas e saberes que está, no fundo, a construir permanentemente métodos e técnicas para analisar a si próprio, antes do outro. Sob essa perspectiva, em diálogo com as próprias teorias da própria Organização do Conhecimento, em um plano metametodológico, podemos conhecer o itinerário das ideias de um domínio a partir de suas próprias discursividades, ou seus lugares de encontro-desencontro.

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