top of page

Retórica e organização do conhecimento

As linhas discursivas dos loci epistêmicos...

Como Capurro (1992) no olhar epistêmico-informacional, as abordagens da filosofia da linguagem (principalmente aquelas de fundo da epistemologia da pragmática) demarcam a influência histórica na constituição do pensamento informacional e da Organização do Conhecimento (OC) da Filologia e da Retórica.

Tais abordagens são anteriores à própria fundamentação da Linguística (quando aparece, no cenário pós-Saussure, um conjunto de trabalhos que apontam para as relações entre OC e os domínios da linguagem, como o caso da Terminologia, ou no caso da semiótica e da semiologia). Especificamente, por exemplo, no plano semiológico, encontramos a presença de Roland Barthes (2001) de maneira direta envolvido com o desenvolvimento primário da Documentação na França.

Do mesmo modo, a teorização crítica da OC estabelecida por García Gutiérrez (2001) posiciona, a partir da Retórica aristotélica, o papel dos tropos como fundamental para identificar, no plano materialista-histórico, as possibilidades de diálogo de um determinado campo a partir dos pontos de partida, dos locais de surgimento e constituição dos discursos, na busca por lugares pré-lógicos e paralógicos possíveis, ou seja, espaços anteriores e co-constituintes do significado que escapam das estruturas lógicas clássicas. A abordagem dos tropos garcía-gutiérreziana é reconhecida como uma "visão desclassificacional", que permite identificar os dilemas ocultados pelas dimensões matemático-geométricas das estruturas hierárquicas de classificação. Eis o território dos loci epistêmicos...

O exercício teórico-metodológico de compreensão dos loci epistêmicos segue, pois, uma trilha que compartilha o desenho da busca de uma originalidade não só do objeto para o objeto (a pesquisa que aqui se realiza), mas da própria construção do objeto para o objeto (plano metarracional de estabelecimento de conceitos). Trata-se, enfim, de um percurso epistemológico-histórico revistado, que pode ser visualizado, por exemplo, nos estudos paralelos da semiótica de Eco (2001) em sua compreensão de Emanuelle Tesauro e a relação entre o plano analítico e o plano retórico a partir do pensamento aristotélico.

Desta maneira, antes de pensar em “trazer a análise do discurso para estudar a OC”, acreditamos, assim como dado com a abordagem de Dahlberg, estamos estabelecendo um diálogo com as próprias “primitividades” do âmbito conceitual e do âmbito metodológico da OC para pensa-la.

REFERÊNCIA

ALMEIDA, T.; SALDANHA, G. S. Entre a abordagem analítica e os loci epistêmicos: um debate metametodológico para a organização do conhecimento In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 2017, Marília. Anais do XVIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação. Marília: PPGCI UNESP, 2017. p.1 - 20.

Outras fontes

BARITÉ, Mario et al. Garantia literária: elementos para uma revisão crítica após um século. Transinformação, Campinas, v. 22, n. 2, 2010.

BARTHES, Roland. A aventura semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CAFÉ, Lígia Maria Arruda; BRATFISCH, Aline. Classificação analítico-sintética: reflexões teóricas e aplicações.Transinformação, Campinas, v. 19, n. 3, 2007.

CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. Linguagem documentária: teorias que fundamentam sua elaboração. Niterói: EdUFF, 2001.

CAPURRO, R. What is Information Science for? a philosophical reflection In: VAKKARI, P.; CRONIN, B. (Ed.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical and theoretical perspectives. In: International conference for the celebration of 20th anniversary of the department of information studies, University of Tampere, Finland.1991. Proceedings... London, Los Angeles: TaylorGraham,1992. p. 82-96.

CAVALCANTE, Raphael da Silva; BRÄSCHER, Marisa. Taxonomias navegacionais em sítios de comércio eletrônico: critérios para avaliação. Transinformação, Campinas, v. 26, n. 2, 2014.

DAHLBERG, I. Conceptual definitions for interconcept. International Classification, v. 8, n. 1, p. 16-22, 1981.

_____. Knowledge Organization: a new Science? Knowledge Organization.v. 33, n.1, p.11-19, 2006.

_____. Knowledge organization: its scope and possibilities. Knowledge Organization, v. 20, n. 4. p.211-222, 1993.

_____ I. A Referent-oriented analytical concept theory of interconcept. International Classification, Frankfurt, v.5, n.3, p.142-150, 1978.

_____. Terminological definitions: characteristics and demands. In: Problèmes de la définition et de la synonymie en terminologie. Québec, GIRSTERM, 1983. p. 13-51.

ECO, Umberto. Semiótica e Filosofia da Linguagem. Lisboa: Instistuto Piaget, 2001.

Folksonomia: esquema de representação do conhecimento? Mariana Brandt; Marisa Brascher; Basílio Medeiros.Transinformação, Campinas, v. 22, n. 2, 2010.

FOUCAULT, M. As Palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FREITAS, Juliana Lazzarotto; NASCIMENTO, Bruna Silva do; BUFREM, Leilah Santiago. A organização do conhecimento na dinâmica da pesquisa em artigos da literatura científica da Brapci. Transinformação, Campinas, v. 26, n.3, 2014.

FUJITA, Mariângela S. L. Organização e representação do conhecimento no Brasil: análise de aspectos conceituais e da produção científica do Enancib no período de 2005 a 2007. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, v. 1, n. 1, p. 1-32, 2008. Disponível em: <http://basessibi.c3sl.ufpr.br/brapci/v/a/7781>. Acesso em: 28 fev. 2017.

FUJITA, Mariângela Spotti Lopes; SANTOS, Luciana Beatriz Piovezan dos. Política de indexação em bibliotecas universitárias: estudo diagnóstico e analítico com pesquisa participante. Transinformação, Campinas, v. 28, n. 1,2016

GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio. Epistemología de la Documentación. Barcelona: Stonberg Editorial, 2011.

GARCÍA GUTIÉRREZ , Antonio. Cientificamente favelados: uma visão crítica do conhecimento a partir da epistemografia. Transinformação, Campinas, v. 18, n. 2, 2006.

HJORLAND, B. What is Knowledge Organization (KO)? Knowledge Organization, v.35, n. 2-3, p. 86-101, 2008.

KOBASHI, Nair Yumiko; SANTOS, Raimundo Nonato Macedo dos. Institucionalização da pesquisa científica no Brasil:cartografia temática e de redes sociaispor meio de técnicas bibliométricas. Transinformação, Campinas, v. 18, n. 1, 2006.

NIETZSCHE, F. Da retórica. 2..ed. Lisboa: Vega, 1999.

TESSER, Gelson João. Principais linhas epistemológicas contemporâneas. Revista Educar, Curitiba, n. 10, dez.1994, p. 91-98. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page