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De Bourdieu à Zubiri

Olhares sobre e caminhos do campo científico...

A proposta teórica de Bourdieu apresenta uma sociologia da sociologia e uma superação do teoricismo e metodologismo dessa mesma sociologia, assim como das visões filosóficas que se tomam como perspectivas a-históricas e a-sociais (BOURDIEU, 1983, 2004; GUERRERO ANAYA, 2006).

Para Marteleto e Saldanha (2016, p. 82) Pierre Bourdieu tece uma crítica às “sociofilosofias” por estas serem “incapazes de analisar um campo objetivo de práticas sociais”. Desse modo, “acabam por projetar intuições e prescrições filosóficas sobre o que consideram ser o ‘social’, ou no caso, o ‘informacional’, sem que este se constitua propriamente um objeto de estudo”. Isso acabaria criando discursos herméticos desconectados com o mundo concreto das práticas.

Guerrero Anaya (2006, p. 18-19) argumenta que, em Bourdieu, a crítica epistemológica vem sempre acompanhada de crítica social. A sociologia da ciência, enquanto uma sociologia do sistema e do mundo intelectual, serve como um instrumento que, mobilizando as conquistas científicas contra a própria ciência, permite despojá-la de seus prejuízos e equívocos. Nesse sentido ela é “primordial para descobrir as categorias que delimitam o pensável e predeterminam o pensado” (Anaya, 2006, p. 19).

Sem afirmar que a razão e as verdades cientificas se reduzem a história, mas indicando que a sua compreensão deve ser abordada historicamente, uma vez que as condições históricas de aparição das formas sociais tornam possível a produção da verdade, Bourdieu, aponta que esta verdade é “antes de tudo um compromisso que surge das lutas e interrelações de atores que se confrontam em um campo” (BOURDIEU, 1988, p. 41-42 apud GUERRERO ANAYA, 2006, p. 19).

Dessa forma as ciências sociais são para Bourdieu, um conhecimento do conhecimento (BOURDIEU;WACQUANT,1992. p. 127 apud GILBERT GALASSI, 2015) nas quais a metodologia a ser empregada é de apreender a pesquisa como uma atividade racional, cujo “fundamento mais importante, [...] diz respeito à quebra de doutrinas” (SCARTEZINI, 2011, P. 33). Para se fazer ciência, será necessário “[...] evitar as aparências da cientificidade, contradizer mesmo as normas em vigor e desafiar os critérios correntes do rigor científico. ” (BOURDIEU, 2002, p.42).

Scartezini (2011, p. 28), dessa forma, na linha de Bourdieu, aponta que ao escolher o objeto de pesquisa, deve-se partir da capacidade de colocar em jogo as “verdades cientificamente aceitas”, uma vez que estas que dizem respeito muito mais às “lutas pelo poder do campo científico do que a verdades e\ou inovações científicas”. Assim, é imperativo, seguindo a proposta de Bourdieu, que se procure, antes de desvendar o objeto a ser analisado, desvendar-nos e compreendermo-nos enquanto cientistas, e, em sequência, desvendar e compreender o próprio meio científico no qual o cientista se insere (SCARTEZINI, 2011, P. 28).

Desse modo, é imprescindível para o cientista, além de construir o objeto como um “sistema coerente de relações”, pô-lo “a prova como tal”. Ele deve “ter uma postura ativa e sistemática”, pois quando percebe as “particularidades do objeto” pode “encontrar as características invariantes e assim compreender aquilo que ele possui como generalidade”. Esse processo não só constituiria as “[...] leis gerais tão caras aos homens de ciência”, como seria em essência o ensejo da atuação intelectual” (SCARTEZINI, 2011, p.28).

E é nesse ponto que a perspectiva do autor, enquanto um reflexividade sócio-crítica, se une a Zubiri, justamente pelo seu ensejo de, não só pôr em evidência a situação intelectual do homem contemporâneo, como de buscar uma reflexão sobre os fundamentos que justifiquem essa situação ou posição.

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