A luta da linguagem no dorso da filosofia da informação
Considerado o poder da linguagem, dentro do processo histórico de constituição do homem no Ocidente não podemos conceber nenhuma forma de desenvolvimento político onde a pós-verdade, fruto do maquinário simbólico-técnico do trivium, não atue na esfera pública. Do mesmo modo, não podemos conceber uma visão política ocidental que não conheça os métodos dos arcana para sua constituição.
Os arqui-segredos (os mais íntimos dados do Estado e do sujeito) e a pós-verdade são unidades elementares dos processos de luta social nas disputas democráticas. Nega-los é negar o desenvolvimento dos princípios da própria cidadania (desde a noção porosa da Grécia “cidadã”). Não conhecê-los é aproximar-se das condições gregas do homem bárbaro. Toma-los como naturais, ao mesmo tempo, significa reconhecer o trauma da ausência completa de um pressuposto humano dos sujeitos, sua ausência linguagem. Não é, pois, fora da linguagem que a luta contra o segredo e a pós-verdade se dá. Mas dentro dela. Não existe um “fora” desse império simbólico onde a ideologia se transfigura em superestrutura, diria-nos Bakhtin (2006).
Para uma leitura crítica do desenvolvimento de uma perspectiva da pós-verdade, nós podemos perceber que estamos diante do tradicional uso opressor das máquinas do trivium: a linguagem como arma de dominação central do Estado Moderno. Isso nos permite compreender a filosofia da informação como resultado do desenvolvimento social e histórico do trivium, e as teorias da informação como tentativas históricas de comprovar a aplicação dos grandes conceitos informacionais na “cidade”, no espaço de invenção da política (e da mais alta e rigorosa noção de exploração do homem pelo homem).
A ideia de opressão e a ideia de dominação, a ideia de divisão de classes e a ideia de hierarquia, por exemplo, são conceitos da filosofia da informação, posto que estão contidas neste processo histórico do trivium, da compreensão e do uso da linguagem. Como conclui de maneira direta Lévi-Strauss (1957, p. 316), “Se a escrita não bastou para consolidar os conhecimentos, ela era talvez indispensável para fortalecer as dominações.” Eis o império simbólico do trivium.
Referência
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