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AUTORIDADE, PODER E CIÊNCIA: entre Pierre Bourdieu e Patrick Wilson

Na Sociologia, a noção de autoridade é “definida e sustentada pelas normas do sistema social e, de modo geral, aceita como legítima pelos que dela participam”. Nesse entendimento, a autoridade está ligada a posições, status que os indivíduos ocupam dentro do espaço na qual pertence, como a autoridade exercida por um policial, legitimada pela crença social. A filosofia por sua vez vincula o conceito e o argumento de quem detém autoridade ao valor moral conquistado. Isso pode ser observado no Dicionário básico de Filosofia de Japiassu e Marcondes. Um argumento de autoridade pode ser fundado no “valor moral ou intelectual de alguém tendo certo prestígio ou exercendo certo poder”.

Quando o conceito de autoridade é pensando no âmbito das ciências, o modo de aquisição afeta as relações entre os cientistas e o reconhecimento do outro, e modifica o desenvolvimento teórico de uma área de conhecimento. Consequentemente, a autoridade tende a afetar o olhar de quem está dentro e de quem está fora do campo.

Pierre Bourdieu, sociólogo francês adotado em diversas áreas de conhecimento e Patrick Wilson, bibliotecário, filósofo e cientista da informação norte-americano, debruçam-se sobre o conceito de autoridade sob diferentes pontos de vista. Os autores desenvolveram conceitos sobre o tema em períodos próximos. Bourdieu publica O campo científico em 1976 e Wilson Second-hand knowledge em 1983, ambas as obras orientadas para um olhar sociológico sobre as relações sociais na ciência e a decorrente produção de conhecimento. Assim, pretende-se nesse artigo discutir o conceito de autoridade a partir destas obras, buscando semelhanças e diferenças nas correntes teóricas e estabelecendo um diálogo que pode ser utilizado como aporte para outros trabalhos, principalmente os que têm por objeto a produção de conhecimento científico.

Na Ciência da Informação, Nélida González de Gómez (2007) se apropria desses e outros teóricos como aporte, desenvolvendo uma reflexão filosófico-epistemológica para pensar as novas configurações do conhecimento e o papel das autoridades nos processos de validação da informação.

Na visão bourdieusiana do cientista, encontramos a definição conceitual de “autoridade científica”, o objetivo do cientista com a aquisição desse capital, as decorrências do reconhecimento dentro e fora do seu campo de conhecimento e as estratégias adotadas para a manutenção por parte do detentor do monopólio do capital científico e dos que almejam alcançar esse patamar.

No ponto de vista de Patrick Wilson, a questão que origina a reflexão é o “conhecimento de segunda-mão”. O conceito de “autoridade cognitiva” (ou epistêmica) e, em específico, a relevância que uma autoridade tem no desenvolvimento das ciências é construído na visão wilsoniana. O espaço de atuação do pesquisador e o lócus da produção de conhecimento e a autoridade cognitiva das ciências, entendida como “autoridade institucional científica”, são também elementos deste diálogo retrospectivo e contextualizador. As questões impactam objetivamente no ser (a identificação) e no fazer (a práxis) do modo informacional de inventar a realidade. Em outros termos, a “construção” de uma ciência para a informação é, também, a ficção das autoridades, o uso do poder de um discurso estabelecido sob condições simbólico-materiais em um dado espaço-tempo.

Fontes indicadas

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bordieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. Cap. 4.

BOURDIEU, P. Homo academicus. Florianópolis: ed. da UFSC, 2013.

BOURDIEU, P. A Economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2008.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. Novas configurações do conhecimento e da validade da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 8, 2007, Salvador. Anais... Salvador: UFBA/PPGCI; Ancib, 2007. Disponível em: <http://www.enancib.ppgci.ufba.br/> Acesso em: 8 fev. 2010.

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4. ed. atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

WILSON, Patrick. Second-Hand Knowledge: and inquiry into cognitive authority. Westport, USA: Greenwood Press, 1983.

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