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PRAGMÁTICA E INFORMAÇÃO: a linguagem como amparo do desencantamento do mundo

Para Rendón Rojas (1996), o enfoque pragmático é um fundamento essencial para o estudo da informação, uma vez que reconhece a dialética do sujeito com o mundo que o cerca. González de Gómez (1996) partilha da mesma opinião. A autora observa que a pragmática apresenta elementos para superar os limites, as simplificações e exclusões das teorias sintática e semântica da informação. Segundo González de Gómez (1996), na década de 1980, diversos estudos da informação se concentraram no problema da relação significado-informação, mas a partir de diferentes objetivos. Dentre estes, dinamizar sistemas de recuperação da informação, aperfeiçoar os mecanismos de representação informacional e incorporar a diversidade cultural na programação de ações locais.

Dentro do pragmatismo, os problemas informacionais são tratados como “questões humanas”, não como demandas físicas, isto é, os problemas de classificação e catalogação não são situações complexas de livros, documentos ou bits, mas entraves/desafios da representação, da organização e da sistematização de culturas, fontes de investigação do conteúdo. Desta forma, a partir do pragmatismo, não são o livro nem o computador os objetos de estudo da Ciência da Informação, mas, sim, o mundo informacional construído pelo homem, do qual estes e tantos outros artefatos fazem parte.

Para Habermas (2004, p. 68), a passagem da Filosofia da consciência para a linguagem traz algo além das vantagens metodológicas. Há também, na visão do filósofo, ganhos objetivos, contra a crítica em geral remetida ao seu relativismo. As filosofias da linguagem permitiriam abandonar o “círculo improcedente entre os pensamentos metafísico e antimetafísico”, ou “idealismo” e “materialismo”, recuperando problemas históricos da filosofia que a metafísica não podia solucionar.

O contextualismo anunciado pela Filosofia da linguagem ordinária tanto na Teoria da Ação Comunicativa habermasiana percebe a persuasão como contraponto à metafísica e à verdade última. Esta concepção permite ao pensamento recuperar os relevantes dispositivos do pensamento oriundo das Humanidades, restaurando alguns pressupostos humanistas abandonados no âmbito das ciências naturais. As experiências estéticas, sobretudo da área da literatura e da teoria literária, diz Habermas (2004, p. 241), são manifestações que nunca abandonaram este contextualismo pragmático.

A vivência coletiva da linguagem constituída é o fato que “estabiliza” a pluralidade sem o relativismo ad infinitum. A vivência cria a possibilidade de julgar, de significar. O jogo de linguagem de cada produção discursiva, de onde emergem os intercâmbios informacionais e as interpretações dos artefatos de memória, pode expressar muitas formas de vida, sem que uma forma de vida ou linguagem sintetize outras, sem que se estabeleçam como incomensuráveis (GONZALÉZ DE GÓMEZ, 1996a). Este movimento, no âmbito da CI, identifica a modificação de propostas teóricas físico-cognitivas para abordagens pragmatistas, como a análise do domínio (HJORLAND, ALBRECHTSEN, 1995) e a cibersemiótica (BRIER, 1996), que igualmente revelam a aproximação entre CI e Humanidades. Algumas fontes BRIER, Soren. Cybersemiotics: a new interdisciplinary development applied to the problems of knowledge organization and document retrieval in information science. Journal of Documentation, v. 52, n. 3, p. 296-344, sep. 1996.

BLAIR, D.C. Information retrieval and the philosophy of language. The Computer Journal, 35, 3, 200-207, 1992.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. Comentários ao artigo “Hacia um nuevo pardigma em bibliotecologia”. Transinformação, Campinas, v. 8, n. 3, p. 44-56, set./dez. 1996a.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. Comentários ao artigo “Hacia um nuevo pardigma em bibliotecologia”. Transinformação, 8, 3, 44-56, 1996b.

GRACIOSO, Luciana de Souza. Filosofia da linguagem e Ciência da Informação: jogos de linguagem e ação comunicativa no contexto das ações de informação em tecnologias virtuais. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia; Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2008.

HABERMAS, J. Teoria de la accion comunicativa. Madrid: Taurus, 2003.

HABERMAS, J. Pensamento pós-metafísico: ensaios filosóficos. Coimbra: Almedina, 2004.

RENDÓN ROJAS, Miguel Ángel. Hacia um nuevo paradigma em bibliotecologia. Transinformação, Campinas, v. 8, n. 3, p. 17-31, set./dez. 1996.

SALDANHA, G. S.; GRACIOSO, L. S. Filosofia da linguagem e Ciência da Informação na América Latina: apontamentos sobre pragmática e linguagem ordinária. In: Miguel Ángel Rendón Rojas. (Org.). El problema del lenguaje en la bibliotecología / ciencia de la información / documentación. Un acercamiento filosófico-teórico. 1ed.Cidade do México: UNAM, 2014. p. 1-32.

WITTGENSTEIN, Ludwig. Observações filosóficas. São Paulo: Loyola, 2005.

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