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Centros de cálculo e zonas de prosa: rituais etnobibliográficos...

Como se constituem as vivências artefactuais no cotidiano de uso e estetização das tecnologias da linguagem? Outros espaços de produção e de uso de saberes através de artefatos se instituem, distantes dos métodos e das técnicas dos centros de cálculo.

A apropriação e a conjugação dos termos “biblioteca” e “informação”, “emancipados” ora como metáforas, ora como conceitos do pensamento informacional, levam, por exemplo, Regina Marteleto (1996) a perceber uma dupla ruptura no plano epistemológico: de um lado o “além-lugar”, de outro, o “além-lugar-criador”.

"No plano da reconstrução do conhecimento sobre informação, a dupla ruptura epistemológica implicaria, em primeiro lugar, o entendimento da questão informacional para além das fronteiras dos ‘lugares de signos’, estendendo-se a sua leitura para os espaços sociais de concretização da produção e comunicação dos sentidos. Em segundo lugar, no reconhecimento de formas diferenciadas de geração e apropriação dos conhecimentos, em sua inscrição informacional." (MARTELETO, 1996, p. 22)

Em nossa compreensão, esse “além-lugar”, o “fora” dos “centros de cálculo”, podem ser tratados como “zonas de prosa”, ou espaço-tempo não privilegiado pelo discurso científico clássico como portador do epistêmico em sua natureza discursiva: salas de aula, laboratórios, bibliotecas, museus, arquivos, tais “centros de cálculo” ganharam no Ocidente tal “privilégio” de lugar epistêmico.

Do outro lado, o conjunto inabarcável de outras espacialidades e temporalidades se apresentam como zonas de fluxo do discurso, prosaicos, ordinários. Trata-se de um espaço-tempo que demanda metodologias não tradicionais da tradição epistemológica, principalmente, que escapa das precisões dos modelos positivistas. Uma “antropologia da informação” se constitui nesse movimento teórico.

"Podemos agora retomar a proposta de uma leitura antropológica da informação [...] A leitura antropológica da informação apresenta algumas consequências metodológicas, que venho catalogando na minha prática de pesquisa, as quais, como encerramento dessa intervenção, passo a enumerar, como pontos para debate: a) emprego de métodos próprios das Ciências Sociais, construídos a partir de uma demarcação disciplinar e correntes teóricas nas quais os caminhos metodológicos encontram-se inscritos. Como emprega-los em outros campos de estudos, sem perder de vista sua inserção disciplinas e histórica?; b) a associação essencial do fenômeno informacional à sua inscrição textual e ao tratamento gerencial que necessariamente esses conjuntos materiais-discursivos precisam receber; c) as implicações teóricas e metodológicas de uma leitura das práticas discursivas como práticas informacionaos/comunicacionais nas quais os interlocutores encontram-se diferentemente posicionados, de acordo com o seu lugar social e seus diferentes níveis de competência linguística e cognitiva; d) a necessidade de ampliação do entendimento da linguagem, para além do aspecto representacional dos conjuntos textuais, ampliando-se o seu estudo para os atos e condições discursivas, incorporando contribuições de outras tradições disciplinas." (MARTELETO, 1996, p. 22-23, grifo nosso)

A construção dos argumentos de Oddone (2007) e de Marteleto (1996), tendo como aporte no contexto informacional o pensamento a epistemologia social shera-eganiana nos permite o direcionamento da perspectiva bibliográfica e a possibilidade de compreensão de uma etnobibliografia como aporte para compreensão da realidade tecida a partir de um real que se dá dentro do, no entorno do e para o encontro com o bibliográfico.

Este direcionamento nos leva à possibilidade de identificação desta etnobibliografia na relação entre o que chamamos de hipóteses mallarmaico-blanchotiana e melot-taffininana, ou seja, à demarcação instituída pelo livro Livro, de Melot e Taffin, uma tautologia cultural...

Algumas fontes

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MALLARMÉ, Stéphane. Divagações. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2010.

MARTELETO, R. M. 'Lugares de Signos' e contextos de informação: A Biblioteca como metáfora dos conhecimentos modernos. Revista de Biblioteconomia de Brasília, Brasília, v. 20, n.20, p. 241-246, 1996.

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SALDANHA, G. S.; ELIAS JUNIOR, Alberto Calil . Etnobibliografia: entre as hipóteses mallarmaico-blanchotiana e melottaffiniana. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015), 2015, João Pessoa. Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015). João Pessoa: UFPB, 2015. v. 1. p. 0-20.

WITTGENSTEIN, L. Investigações Filosóficas. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1979.

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