top of page

Da crítica da cultura na Ciência da Informação... notas simbólicas

Reconhecidas as torções do neodocumentalismo a partir dos anos 1990, retomamos a pergunta, “Como pensar o desafio cassireriano da passagem de uma “crítica da razão” para uma “crítica da cultura”?

Lançamos aqui duas hipóteses gerais: a primeira, a construção do projeto bibliológico por Robert Estivals e sua participação na “terceira geração bibliológica” (ou seja, a geração que sucede Peignot e Otlet e que tem sua grande fase de produção entre 1960 e 2000). Ali, ciência e cultura se interpenetram.

A segunda hipótese está na vinculação retórico-filológica do pensamento informacional na posição epistemológica de Rafael Capurro (1992). Uma espécie de reconstrução culturalista da noção de informação, partindo da linguagem, permite a compreensão da mesma direção simbólica dos estudos informacionais.

Estas hipóteses estão, no decurso alinear do pensamento informacional, reunidas sob o que podemos tratar como abordagens pós-estruturalistas recentes da epistemologia da Ciência da Informação (CI), apesar desta ser apenas a forma de presentificação mais declarada de tais correntes e suas aplicações.

A discussão de Ronald Day (2005) acerca das abordagens pós-estruturalistas desenvolvidas no escopo da CI chama-nos a atenção por inúmeras questões. A princípio, a dificuldade de se definir um significado comum para a gama distinta de correntes de pensamento ancorada sob a noção “pós-estruturalismo” demonstra o quadro aberto de interpretações sob os movimentos, ideias, discursos e aplicações nos estudos informacionais presentes no escopo do significante em destaque na revisão de literatura publicada no Annual review of information scicence and technology (ARIST). Autores como François Lyotard, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Jacques Derrida são exemplos de nomes, em geral, reunidos sob a sombra de tais abordagens. Em alguns casos, Heidegger e Wittgenstein também são incluídos como parte (em certa medida, precursores) destas transformações.

O conjunto de abordagens reconhecidas por Day (2005) pode identificar, à primeira vista, a construção de um pensamento orientando para práticas sócio-culturais nas últimas décadas (principalmente anos 1990 e 2000), dada a ampliação de tal ênfase nos debates recentes dos estudos informacionais. Contudo, qualquer análise discursiva lançada sobre a discussão dayana, permite a compreensão de um devir, de um processo histórico evidenciado na epistemologia informacional, tecida em sua construção discursiva. A menção a dois clássicos trabalhos de epistemologia do campo, anteriores aos movimentos de redefinição dos anos 1960, a saber, Social epistemology, general semantics and librarianship, de Jesse Shera, dos anos 1950, e Traité de Documentation, de Paul Otlet, de 1930, demonstram que a construção dos ditos discursos pós-estruturalistas recebem um árduo desafio de enquadramento temporal.

No quadro genérico, a noção de “pós-estruturalismo” aproxima um amplo grupo de ideias e de seus autores que colocam em foco questões como linguagem ordinária, discurso, cultura, alteridade, contexto, historicidade. Interessa-nos perceber, dentro da possível dinâmica epistemológica de reconhecimento do pós-estruturalismo dentro dos estudos informacionais, um conceito que, por vezes, passa silencioso pela construção epistemológico-histórica da CI. Trata-se do simbolismo e sua condição na invenção e na definição de uma ciência para informação.

Algumas fontes

ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Bauru (SP): EDIPRO, 2010.

BUCKLAND, M. K. Information as thing. Journal of the American Society of Information Science, v. 42, n. 5, p. 351-360, jun. 1991.

CAPURRO, Rafael. Translating Information. In: ISIS SUMMIT VIENNA 2015. 4. 2015. Viena: Universidade de Viena, 2015. Disponível em: < http://sciforum.net/conference/isis-summit-vienna-2015/paper/2972>. Acesso em: 10 jul. 2015.

CAPURRO, R. What is Information Science for? a philosophical reflection In: VAKKARI, P.; CRONIN, B. (Ed.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical and theoretical perspectives. In: INTERNATIONAL CONFERENCE FOR THE CELEBRATION OF 20TH ANNIVERSARY OF THE DEPARTMENT OF INFORMATION STUDIES, UNIVERSITY OF TAMPERE, FINLAND.1991. Proceedings... London, Los Angeles: TaylorGraham,1992. p. 82-96.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Terceira parte: Fenomenologia do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Segunda Parte: O pensamento mítico. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Primeira parte: A linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DAY, R. Poststructuralism and information studies. Annual review of information scicence and technology (ARIST), v. 39, p. 575-609, 2005.

ESTIVALS, Robert. Theorie lexicale de la schematisation. Schéma et schématisation: revue de schématologie et de bibliologie, n. 52, p. 5-72, 2000.

ESTIVALS, Robert. Le schématisme. Noyers-sur-serein (França): Société de Schématologie et de Bibliologie, 2002.

ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget, 1984.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M.N. Informação como instância de integração de conhecimentos, meios e linguagens: questões epistemológicas, consequências políticas. GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N.; ORRICO, E. G. D. (Orgs). Políticas de memória e informação: reflexos na organização do conhecimento. Natal: EdUFRN, 2006. p. 29-84.

FROHMANN, Bernd. The power of images: a discourse of images: a discourse analysis of cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo I. Paris: Chez Villier, 1802a.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo II. Paris: Chez Villier, 1802b.

RENDÓN ROJAS, M. A. Un Análisis filosófico de la Bibliotecología. Investigación Bibliotecológica, v. 10, n. 20, p. 9-15, jan./jun. 1996.

SALDANHA, Gustavo S. Epistemologia da Ciência da Informação e o arquidevir simbólico: das notas cassirerianas à constituição simbólica dos estudos informacionais. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015), 2015, João Pessoa. Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015). João Pessoa: UFPB, 2015. v. 1. p. 0-20.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Tratado de simbólica. São Paulo: É Realizações, 2007.

SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ci. Inf., Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.

SHERA, Jesse. Toward a theory of librarianship and information science. Ci Inf., v. 2, n. 2, p. 87-97, 1973.

TODOROV, Tzvetan. Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora UNESP, 2014.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page