top of page

Entre Wittgenstein e Cassirer... o simbólico no império informacional...

A amplitude e a ramificação dos estudos sobre o simbólico na Ciência da Informação (CI) podem ser reduzidas, se partirmos de um ponto de vista prioritário na reflexão sobre o conceito, a um pequeno grupo de reflexões. Por exemplo, se tomarmos como marco de análise apenas o ponto de vista linguístico, ou se partirmos da lógica e nela restarmos, ou, ainda, se abordarmos somente o ponto de vista sociológico, modelaríamos nosso enfoque a partir de uma perspectiva.

Cumpre-nos observar, previamente, que da “Retórica” aristotélica, da “filosofia da cultura” em Nietzsche, da “retórica” em Ricoeur, do “interacionismo simbólico” em Mead e Blumer e seus desdobramentos em Vigotsky e Piaget, da “retórica literária” em Bakhtin, passando pelo “poder simbólico” em Pierre Bourdieu, o vasto campo de discussão sobre o simbolismo não obedece a uma direção precisa. Quando afirmada a “presença” do simbólico na CI, cada uma destas (além de muitas outras) fontes podem ser identificadas, reconhecidas, objetivadas. No entanto, nenhum deles apresenta as mínimas condições de fundamentar um mapa seguro do pensamento simbólico nos estudos informacionais.

O fato do “silêncio” destes estudos está, na primeira linha interpretativa de nossa investigação, na construção inacabada de um aporte positivista clássico e neoclássico dentro do campo informacional. Destacamos tal construção como “inacabada”, pois, ao contrário, abordagens epistêmico-classificatórias como aquelas lançadas por Capurro (2003) e Rendón Rojas (1996), parecem sugerir a passagem de modelos metateóricos de pensamento para abordagens “cada vez mais” culturalistas. O percurso resultaria em um afastamento do modelo positivista de conhecimento da realidade.

Ao contrário do ponto de vista de “cartografias epistêmicas” dadas entre 1960 e a década em curso, percebemos, para além do “positivismo clássico”, pautado na procura por modelos epistêmico-políticos de afirmação de uma “supremacia da ciência empírica”, o avanço cada vez mais amplo da consolidação de um “positivismo lógico”, com influência direta ou indireta do Círculo de Viena e do pensamento de segunda fase de Wittgenstein.

No entanto, o que à primeira vista se apresenta como o argumento da distinção, o fato do distanciamento aos pressupostos simbolistas, na crítica epistemológica “simbólica” se inverte: em uma teoria do conhecimento baseada no simbólico, como é o caso da visão cassireriana, é exatamente a força do aparentemente “frágil” e “a-social” positivismo informacional que se estabelece a máxima de um modelo fundado no simbolismo. O império informacional reside, pois, justamente, no solo arenoso do simbólico.

Algumas fontes

ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Bauru (SP): EDIPRO, 2010.

BUCKLAND, M. K. Information as thing. Journal of the American Society of Information Science, v. 42, n. 5, p. 351-360, jun. 1991.

CAPURRO, Rafael. Translating Information. In: ISIS SUMMIT VIENNA 2015. 4. 2015. Viena: Universidade de Viena, 2015. Disponível em: < http://sciforum.net/conference/isis-summit-vienna-2015/paper/2972>. Acesso em: 10 jul. 2015.

CAPURRO, R. What is Information Science for? a philosophical reflection In: VAKKARI, P.; CRONIN, B. (Ed.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical and theoretical perspectives. In: INTERNATIONAL CONFERENCE FOR THE CELEBRATION OF 20TH ANNIVERSARY OF THE DEPARTMENT OF INFORMATION STUDIES, UNIVERSITY OF TAMPERE, FINLAND.1991. Proceedings... London, Los Angeles: TaylorGraham,1992. p. 82-96.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Terceira parte: Fenomenologia do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Segunda Parte: O pensamento mítico. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Primeira parte: A linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DAY, R. Poststructuralism and information studies. Annual review of information scicence and technology (ARIST), v. 39, p. 575-609, 2005.

ESTIVALS, Robert. Theorie lexicale de la schematisation. Schéma et schématisation: revue de schématologie et de bibliologie, n. 52, p. 5-72, 2000.

ESTIVALS, Robert. Le schématisme. Noyers-sur-serein (França): Société de Schématologie et de Bibliologie, 2002.

ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget, 1984.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M.N. Informação como instância de integração de conhecimentos, meios e linguagens: questões epistemológicas, consequências políticas. GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N.; ORRICO, E. G. D. (Orgs). Políticas de memória e informação: reflexos na organização do conhecimento. Natal: EdUFRN, 2006. p. 29-84.

FROHMANN, Bernd. The power of images: a discourse of images: a discourse analysis of cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo I. Paris: Chez Villier, 1802a.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo II. Paris: Chez Villier, 1802b.

RENDÓN ROJAS, M. A. Un Análisis filosófico de la Bibliotecología. Investigación Bibliotecológica, v. 10, n. 20, p. 9-15, jan./jun. 1996.

SALDANHA, Gustavo S. Epistemologia da Ciência da Informação e o arquidevir simbólico: das notas cassirerianas à constituição simbólica dos estudos informacionais. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015), 2015, João Pessoa. Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015). João Pessoa: UFPB, 2015. v. 1. p. 0-20.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Tratado de simbólica. São Paulo: É Realizações, 2007.

SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ci. Inf., Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.

SHERA, Jesse. Toward a theory of librarianship and information science. Ci Inf., v. 2, n. 2, p. 87-97, 1973.

TODOROV, Tzvetan. Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora UNESP, 2014.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page