top of page

Todorov, Mário Ferreira e a condição simbólica da teoria da informação: achegas

Junto da perspectiva de Cassirer das Formas Simbólicas, encontramos no estudo do simbólico as visões de Mário Ferreira dos Santos (2007), em seu “Tratado de Simbólica” e Tzvetan Todorov (2014), em “Simbolismo e interpretação”, para demonstrar as condicionantes mais definitórias da construção simbólica do ser e de seus artefatos.

O percurso nos interessa para reposicionar o pensamento de Ernst Cassirer e suas possibilidades de compreensão dos movimentos diacrônicos e sincrônicos de compreensão tanto da epistemologia quanto da historiografia da Ciência da Informação.

Para Santos (2007, p. 45), “Todos os grandes fundadores de religião foram amados, compreendidos, porque falaram em símbolos, eterna linguagem criadora”. Além disso, “[...] toda a natureza, em sua linguagem muda, expressa-se através de símbolos, que o artista sente e vive, que o filósofo interpreta, e o cientista traduz nas grandes leis que regem os factos do acontecer cósmico”.

Na “cosmologia” santosiana, a Simbólica é o “estudo da gênese, desenvolvimento, vida e morte dos símbolos”. Aqui, o símbolo é encarado como “modo de significar do ente, que se se refere a algo”. Neste sentido, símbolo é definido como “subcategoria dos seres finitos, que apresentaria características similares à de valor. Seria uma das categorias intensivas, que não se devem confundir com as categorias extensivas da filosofia clássica.” (SANTOS, 2007, p. 46)

Como ciência, o domínio em questão é tomado por Santos (2007) como Simbologia, ciência do símbolo, que pode ser demonstrada em sua existência a partir dos princípios escolásticos de definição disciplinar-científica, com a necessidade de apresentação de um triplo objeto: material, formal-terminativo e formal-motivo.

O objeto material responde pelas “coisas finitas, reais ou ideias”; o objeto formal-terminativo, responde pela “formalidade ou perfeição considerada ou estudada pela ciência”, no caso, a “referência simbólica”, o “simbolizado”, ou seja, a “significabilidade dos seres finitos, reais-reais ou reais-ideais”; o objeto formal-motivo, responde pelo “instrumento pelo qual uma ciência considera o seu objeto formal”, no caso, o “símbolo”, o “referente enquanto tal”. (SANTOS, 2007, p. 47)

Segundo Todorov (2014), podemos começar a tecer uma visão sobre o “simbólico” a partir do estudo do “discurso”, separando-se este em “direto” e “indireto”. O escopo dos sentidos indiretos cobriria a gama de elementos que podem ser reunidos no conceito de “simbolismo linguístico” ou de “simbólica da linguagem”. Tal produção “indireta” do discurso está presente, segundo o ponto de vista de Todorov (2014, p. 14), “em todos os discursos, talvez dominando inteiramente alguns deles, e não os menos importantes: assim ocorre com a conversação cotidiana ou com a literatura”.

Para o pensamento todoroviano, pode-se identificar duas “recusas” do simbólico, vislumbradas basicamente na crítica à oposição entre um discurso direto e outro, indireto. A primeira recusa responde pela não afirmação da condição simbólica do discurso, a partir da força da relação entre sintaxe e semântica. A segunda recusa trata-se de radicalizar a relação dicotômica, afirmando apenas a condição de existência do discurso indireto (que abarcaria o discurso direto). Nos dois casos, a metáfora tem papel central: na primeira crítica, trata-se de afirmar a anulação da metáfora; no segundo tópico crítico, trata-se de afirmar, como no sentido nietzschiano que só existe a metáfora, sendo o resto ilusão. (TODOROV, 2014)

Para aquém desta dicotomia, nem tão nietzschiano, nem tão semanticista, Todorov (2014, p. 17) afirma “acreditar na existência dos fatos simbólicos”. Em seu ponto de vista, faz-se necessário compreender que as diferenças radicais indicadas não reduzem o papel do simbólico no construto do real. Ao contrário, nos transporta para a compreensão de um “real” condicionado pelas formas e formações simbólicas, o que nos reconduz à Cassirer.

No filósofo do homo simbolicus identificamos a percepção de um estado tal de realidade estabelecido por macro-formações, como arte, linguagem, mito, religião, que conformam o que é-nos dado, reconfigurando não só o aparente, mas também ele, o próprio “dado”.

Algumas fontes

ARISTÓTELES. Órganon: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Bauru (SP): EDIPRO, 2010.

BUCKLAND, M. K. Information as thing. Journal of the American Society of Information Science, v. 42, n. 5, p. 351-360, jun. 1991.

CAPURRO, Rafael. Translating Information. In: ISIS SUMMIT VIENNA 2015. 4. 2015. Viena: Universidade de Viena, 2015. Disponível em: < http://sciforum.net/conference/isis-summit-vienna-2015/paper/2972>. Acesso em: 10 jul. 2015.

CAPURRO, R. What is Information Science for? a philosophical reflection In: VAKKARI, P.; CRONIN, B. (Ed.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical and theoretical perspectives. In: INTERNATIONAL CONFERENCE FOR THE CELEBRATION OF 20TH ANNIVERSARY OF THE DEPARTMENT OF INFORMATION STUDIES, UNIVERSITY OF TAMPERE, FINLAND.1991. Proceedings... London, Los Angeles: TaylorGraham,1992. p. 82-96.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Terceira parte: Fenomenologia do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Segunda Parte: O pensamento mítico. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

CASSIRER, Ernst. A filosofia das formas simbólicas; Primeira parte: A linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

DAY, R. Poststructuralism and information studies. Annual review of information scicence and technology (ARIST), v. 39, p. 575-609, 2005.

ESTIVALS, Robert. Theorie lexicale de la schematisation. Schéma et schématisation: revue de schématologie et de bibliologie, n. 52, p. 5-72, 2000.

ESTIVALS, Robert. Le schématisme. Noyers-sur-serein (França): Société de Schématologie et de Bibliologie, 2002.

ECO, Umberto. Semiótica e filosofia da linguagem. Lisboa: Instituto Piaget, 1984.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M.N. Informação como instância de integração de conhecimentos, meios e linguagens: questões epistemológicas, consequências políticas. GONZÁLEZ DE GÓMEZ, M. N.; ORRICO, E. G. D. (Orgs). Políticas de memória e informação: reflexos na organização do conhecimento. Natal: EdUFRN, 2006. p. 29-84.

FROHMANN, Bernd. The power of images: a discourse of images: a discourse analysis of cognitive viewpoint. Journal of Documentation, v. 48, n. 4, p. 365-386, 1992

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo I. Paris: Chez Villier, 1802a.

PEIGNOT, G. Dictionnaire raisonné de bibliologie, tomo II. Paris: Chez Villier, 1802b.

RENDÓN ROJAS, M. A. Un Análisis filosófico de la Bibliotecología. Investigación Bibliotecológica, v. 10, n. 20, p. 9-15, jan./jun. 1996.

SALDANHA, Gustavo S. Epistemologia da Ciência da Informação e o arquidevir simbólico: das notas cassirerianas à constituição simbólica dos estudos informacionais. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015), 2015, João Pessoa. Encontro Nacional de Pesquisa em Pós-Graduação em Ciência da Informação (XVI ENANCIB 2015). João Pessoa: UFPB, 2015. v. 1. p. 0-20.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Tratado de simbólica. São Paulo: É Realizações, 2007.

SHERA, Jesse. Epistemologia social, semântica geral e Biblioteconomia. Ci. Inf., Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-12, 1977.

SHERA, Jesse. Toward a theory of librarianship and information science. Ci Inf., v. 2, n. 2, p. 87-97, 1973.

TODOROV, Tzvetan. Simbolismo e interpretação. São Paulo: Editora UNESP, 2014.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page