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Biblioteconomia Internacional: reflexões de um professor na África do Sul

Desde seu princípio a presente editoria busca propor um modo de pensar que aborde não apenas o contexto de construção das relações biblioteconômicas e informacionais na esfera local, mas que esteja também aberto à reflexão sobre as interatuações biblioteconômicas no mundo. Ou, em outras palavras, a ideia é abrir um diálogo sobre a interação entre as múltiplas perspectivas que o campo, de modo geral, pode apresentar. A abordagem desse viés aqui têm raízes em boa parte nos estudos de Peter Johan Lor (2008), pesquisador na Universidade de Pretoria, África do Sul, e autor que se dedica à construção teórica do que é chamado de Biblioteconomia Internacional. O tópico, pouco presente entre os estudos brasileiros, é bem trabalhado em um esforço do autor em confrontar as produções desenvolvidas sobre o tema, analisar as conceituações propostas por autores anteriores e desenvolver uma estrutura conceitual basilar para a compreensão da Biblioteconomia Internacional.


Uma questão central para a reflexão sobre esse domínio particular da Biblioteconomia é a diferenciação entre Biblioteconomia Internacional e Biblioteconomia Comparada. Para fundamentar tal diferenciação, Lor perpassa por concepções de diferentes autores que já abordaram ambos os assuntos. Partindo de Louis Shore e Harvey, que visualizam a Biblioteconomia Comparada revestida de um caráter internacional, e chegando a Collings e Parker, que definem a Biblioteconomia Comparada como um método de investigação, Lor delineia os contornos dessas duas abordagens biblioteconômicas, compreendendo a Biblioteconomia Comparada como sendo demarcada pela metodologia comparativa, e podendo ser conduzida igualmente pelos níveis nacional e internacional, distinguindo-se portanto, do campo da Biblioteconomia Internacional – compreendido especialmente como campo de ação, mas podendo também ser observado e estudado –, que pode ou não apresentar uma dimensão comparativa.

Um outro caminho traçado por Lor para se compreender a Biblioteconomia Internacional é através da observação das motivações ou razões que conduziram autores que escreveram sobre Biblioteconomia Internacional. (LOR, 2008). Entre essas motivações encontram-se o exoticismo, a filantropia, a influência nacional (de caráter cultural ou econômico, capaz de se traduzir pela ajuda estrangeira ao desenvolvimento de bibliotecas – foreign aid for library development), a promoção do entendimento internacional, o internacionalismo como valor compartilhado ou motivação idealista, a cooperação nas atividades biblioteconômicas e em fóruns globais relacionados à área, a inovação no que se refere às práticas profissionais, o avanço do conhecimento e, por fim, o auto-conhecimento (self-understanding), que pode ser alcançado a partir da observação da relação entre o “eu” e o “outro”, segundo Lor (2008).


Lor ainda oferece reflexões críticas sobre as interações e a aprendizagem entre os países no âmbito biblioteconômico. Tomando-as como base, é interessante apontar a questão da importação e exportação, entre países, de técnicas, procedimentos e tecnologias, como por exemplo sistemas tecnológicos, estruturas organizacionais e práticas profissionais. Tratar desse tipo de transferência exige uma reflexão sobre os fatores que estruturam os elementos a serem importados em seu país de origem. Por outro lado, conforme ressaltado por Lor (2008, p. 11) fatores locais também podem dificultar a implementação de elementos que funcionam nos países nos quais foram originados. Outra importante ressalva feita por Lor está na não neutralidade ideológica desses elementos, e em como que a importação dos mesmos implica também na transferência de todo um sistema de conceitos e valores que podem ser ou não assimilados no local de destino dessas inovações, a depender do contexto em que elas serão inseridas (LOR, 2008, p. 11). Nesse sentido, a Biblioteconomia Comparada se apresenta como ferramenta para a observação, comparação e análise de fatores históricos, culturais, sociais, políticos, tecnológicos em diferentes contextos, de modo a permitir uma melhor compreensão do desenvolvimento biblioteconômico em lugares específicos e, em última análise, das interações biblioteconômicas em âmbito internacional.


A partir das diversas questões apresentadas e observadas por Lor, o autor propõe que a Biblioteconomia Internacional pode ser compreendida em dois sentidos: no sentido das atividades internacionais que se desenvolvem do dia-a-dia da prática bibliotecária, e também como “um campo de estudo ou uma sub-disciplina acadêmica”, devendo abranger, nesse ultimo caso, tanto o estudo de diferenças e semelhanças entre países, como também as relações e influências internacionais e, ainda, a cooperação internacional e a atuação de organizações internacionais (LOR, 2008, p. 13). Constituindo uma produção bem sistematizada, os trabalhos de Peter Johan Lor sobre o tema podem servir como um ponto de partida para o entendimento do que vem a ser a Biblioteconomia internacional e como estímulo a uma reflexão brasileira própria sobre a temática.



Referência:

LOR, Peter Johan. Critical reflections on International librarianship. Mousaion, Pretoria, n. 25, v. 1, 2008, p. 1-15.


Outras fontes:

LOR, Peter Johan. International and comparative librarianship. Disponível em: <https://peterlor.com/international-comparative-librarianship/>. Acesso em: abr. 2018.


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