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A Coleção e a Biblioteconomia: uma relação discursiva-formativa e histórico-epistêmica.

"Sob o ponto de vista de uma epistemologia histórica, atenta ao papel da linguagem (mais precisamente, das linguagens) que conforma dado modo de construção de um corpo de saberes, existem registros presentes nas coleções de fundo acadêmico-científico que podem nos revelar as próprias circunstâncias tácitas de constituição de uma dada cientificidade." (SALDANHA et al, 2018, p. 51)


A historicidade que tece a construção da "cientificidade" biblioteconômica perpassa intimamente a unidade discursiva da Coleção que inicialmente a estruturou. A condição epistêmica que possibilita o surgimento, no Brasil, do Curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional, se reflete nas decisões de desenvolvimento da Coleção Memória da Biblioteconomia, doravante CMB. Se, como propõe Marshall (2005), a origem etimológica de "coletar" e "falar" reside no termo collectio, essa origem em comum garante aos termos um vínculo, que traduz a forma saber-falar-ordenar. Coleção, neste sentido, está posicionada em um jogo de verdade, daquilo que se pode falar, daquilo que se deve falar, daquilo que uma comunidade aceita como fala verdadeira.




A coleção bibliográfica, no contexto acadêmico, para uma comunidade científica, espelha este discurso de verdade indexado como científico, e de modo simultâneo forma, formata e conforma o discurso científico. Formação discursiva estruturada e estruturante do saber que se quer "cientificamente" perceber. Como, em seu silêncio secular, poderia a CMB expressar sua participação histórica na concepção de uma "cientificidade" do saber biblioteconômico? A resposta seria: através de suas linguagens, ou seriam suas meta-linguagens? Os registros bibliográficos da própria CMB é o encontro possível, e provável, com o discurso histórico e epistemológico que formou o Curso de Biblioteconomia.


As descrições, as classificações, os índices, a presença e ausência dos livros que compõem a Coleção são os vestígios de análise que nos possibilitam falar para a coleção aquilo que ela nos fala. Olhar aquilo que nos olha.


Leituras sugeridas:


BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2002.


BOURDIEU, Pierre. Homo academicus. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2013.


FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Edições Loyola, 1996.


FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: PUC Rio, 2013.


MARSHALL, Francisco. Epistemologias históricas do colecionismo. Episteme, Porto Alegre, n. 20, p. 13-23, jan.-jun., 2005.


MURGUIA, Eduardo I. O colecionismo bibliográfico: uma abordagem do livro para além da informação. Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., ISSN 1518-2924, Florianópolis n. esp., 1. sem. 2009.


SALDANHA, Gustavo Silva et al. A Coleção Memória da Biblioteconomia e a epistemologia histórica dos estudos biblioteconômico-informacionais no Brasil: sobre coleções bibliográficas como fatos epistêmicos. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 14, p. 46-68, set. 2018.



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