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CRÍTICA DO SILÊNCIO DOS ESPELHOS: o escopo dos estudos sociais da informação

O exercício epistemológico-histórico de elaboração de uma “ciência para a informação” nos coloca em um ponto de partir para a compreensão de um domínio tratado como “estudos sociais da informação”, que compreenderia das abordagens sociais à crítica de uma teoria do conhecimento de fundo sociológica, antropológica e política. Por fundamento, tal domínio se expressaria sob uma noção mais “flexível” de CI, ou seja, não sob a ideia de uma “ciência da informação”, mas sob a condição da miríade de “estudos informacionais”, hoje, 2016, em geral, representados institucionalmente por organizações que levam, no contexto internacional, as expressões library and information science e informacion science, como centrais, além de uma considerável lista de variações.

Em certa medida, esta é uma aproximação direta à crítica millsiana do que se diz “cientificamente social”, quando tratamos das ciências sociais. Sabemos que o termo “ciência da informação” é um neologismo do século XX, que indica um deslocamento de estudos da meta-representação da informação, neste contexto temporal a partir de uma ordem tecnológica. O termo “ciência” e o termo “informação” podem nos levar até significados mais vazios do que concretos, o que nos faz acreditar que há algo epistemologicamente mais sólido antes – e no entorno – da institucionalização da expressão que reúne ambos.” (SALDANHA, 2008, p. 68)

Mills (1975) opta por adotar a expressão “estudos sociais” no lugar de “ciências sociais” preocupado com uma espécie de objetivação do cientificismo sociológico que parece só interessar à afirmação da sociologia como um outro ramo dos estudos fisicalistas, quando sua abordagem, condicionada ao objeto dinâmico que a alimenta, deve partir de uma racionalidade distinta. Assim, Como o sociólogo, que prefere “muito mais a expressão ‘estudos sociais’ do que ‘ciências sociais’ - não porque não me agradem os cientistas físicos (pelo contrário), mas porque a palavra 'ciência' adquiriu grande prestígio e um sentido bastante impreciso”-, preferimos, se falamos, como atualmente os pesquisadores da área discursam, em uma macro ciência para a informação, em estudos da informação ou estudos de organização do conhecimento. Isto não significa que assim propomos uma alteração no nome da área. Ao contrário, é exatamente pela questão inversa a esta possível interpretação, que preferimos, contextualmente, generalizar, neste momento, a noção da área que sempre tratou da representação, transmissão e preservação dos saberes. (SALDANHA, 2008, p. 68).

No encalço da preocupação com a produção e a apropriação conceitual no campo, compete-nos, pois, a aproximação às noções de “estudos informacionais” e de “estudos sociais da informação”, e menos a preocupação paradigmática de compreensão da “Ciência da Informação” como “Ciência Social”.

Dada a delimitação, nossa questão conceitual continua ampla: em que medida estamos tratando de “estudos sociais da informação”, como macro-noção, e quando adentramos, de fato, uma discussão sociológica sobre a informação, fundamentada em aportes teóricos advindos da reflexão de uma “ciência social dura”, como demonstrada nos termos da revisão de Ivan Domingues (2004).

Para explorar as margens de resposta à questão, propomos aqui uma reflexão sob três dimensões, a saber:

  1. a fundamentação sociológica dos métodos e abordagens teóricas da CI;

  2. a fundamentação informacional da paisagem social;

  3. a “dessignificação” (ou esvaziamento) e “ressignificação” do social nos estudos informacionais.

Estas direções parecem nos dar as possíveis linhas de segurança para a aplicação das abordagens teóricas e metodológicas acima discutidas.

Algumas fontes

ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. A ciência da informação como ciência social. Ciência da Informação, v. 32, n. 3, p. 21-27, set./dez. 2003.

BAUMAN, Zygmunt. Aprendendo a pensar com a sociologia. Rio de Janeiro: Zahar Edires, 2010.

BEZERRA, Arthur; SALDANHA, Gustavo S. Sobre Comte, Durkheim e Tarde em Otlet: o papel do positivismo na consolidação dos estudos da informação. Fronteiras da Ciência da Informação. Brasília: IBICT, 2013. p. 34-56.

DEMO, Pedro. Ambivalências da sociedade da informação. Ciência da Informação, Brasília, v. 29, n. 2, p. 37-42, maio/ago. 2000.

DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa In: ______. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. Tradução de Sandra Regina. Porto Alegre: Artmed, 2006. Cap. 1, p. 15-47.

DOMINGUES, Ivan. Epistemologia das ciências humanas. tomo 1: positivismo e hermenêutica. São Paulo: Loyola, 2004.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.

GONZALEZ DE GOMEZ, Maria Nélida. A configuração temática da ciência da informação do instituto brasileiro de informação em ciência e tecnologia. 1982. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – UFRJ/ECO - CNPq/IBICT, Rio de Janeiro, 1982.

MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. 4. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

MOREIRA, Eliana Monteiro; OLIVEIRA, Roberto Veras de; Sentidos da globalização: um desafio ao pensamento sociológico. In: ______. (Orgs.) O fenômeno da globalização em perspectiva local e multidimensional. João Pessoa: EDUFPB, 2009. p. 9-35.

OTLET, Paul. Traité de documenatation: le livre sur le livre: théorie et pratique. Bruxelas: Editiones Mundaneum, 1934.

ROUBAKINE, Nicolas. Introduction a la psychologie bibliologique; v.1 Paris: Association Internacionale de Bibliologie, 1998

TOURAINE, Alain. O retorno do actor: ensaio de sociologia. Tradução de Armando Pereira da Silva. Lisboa: Instituto Piaget, 1996.

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