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A INDÚSTRIA DO CONHECIMENTO E A “SEGUNDA MÃO”: a autoridade cognitiva ou epistêmica

O termo “autoridade cognitiva” se apresenta para explicar o fenômeno da busca pelo conhecimento de outro. Segundo Rieh (2003), Wilson utiliza o termo para explicar o tipo de autoridade que influencia pensamentos de outras pessoas, que conscientemente reconhecem como apropriados para a aquisição de conhecimento. Algumas pontuações são designadas pelo autor para descrever uma autoridade cognitiva:


“Autoridade cognitiva requer um relacionamento que envolve pelo menos duas pessoas; a autoridade de alguém é reconhecida por aquele indivíduo, o constitui num especialista, embora outra pessoa possa não reconhecê-la como tal; logo, é uma atribuição social de competência; Autoridade cognitiva é uma questão de [grau e/ou] formação (degree), podendo-se ter muito ou pouco sobre o assunto. Autoridade cognitiva é relativa à esfera de interesse e experiência de um indivíduo, em algumas questões pode-se falar com autoridade, enquanto que em outras situações pode não ter autoridade alguma; Autoridade cognitiva implica o exercício de um tipo de influência, que não está relacionada a autoridade administrativa; Autoridades cognitivas são aquelas consideradas fontes credíveis de Informação” (WILSON, 1983, 13-15 apud FIGUEIREDO, GONZÁLEZ DE GÓMEZ, 2011, p. 91, tradução nossa)


Não há, no entendimento de Wilson (1983, p. 18), delimitação de área de conhecimento ou de assunto para o uso do conceito de autoridade cognitiva, ao contrário, é extensivo a diversos tipos de área e pode ser aberto a qualquer questão, indefinidamente. A autoridade cognitiva se difere de outros tipos de autoridade por não haver poder legitimado por instituição ou hierárquico de comando, mas da influência que uma pessoa exerce sobre a outra (WILSON, 1983, p. 14).

Outro conceito que possui clara relação com a autoridade cognitiva é a credibilidade. Atribui-se algumas qualidades a quem designamos uma autoridade cognitiva credível, como a competência e a confiabilidade. Uma pessoa é competente se é capaz de observar algo com precisão e pesquisar com sucesso. E do mesmo modo, é confiável se é honesto, cuidadoso nas palavras e não é inclinado ao engano (WILSON, 1983, p. 15). O conceito de credibilidade é amplo e por si mesmo cabe uma pesquisa, contudo não é o propósito desse artigo, mas é necessário apresentar essa relação com a autoridade cognitiva porque faz parte do desenvolvimento e atribuição nas relações entre as pessoas.

Wilson contextualiza o trabalho do cientista e a produção de conhecimento no que chama de indústria do conhecimento (The knowledge industry), como um lócus onde grupos de pessoas que tentam produzir conhecimento de maneira sistemática, mas não necessariamente sequencial. Essa indústria também pode produzir opinião e não conhecimento, deixando questões em aberto, e talvez por isso produza tanto (WILSON, 1983, p. 39).

Essa indústria se compõe de pequenos grupos de especialistas que publicam em artigos resultados de suas pesquisas, com intenção de mudar o pensamento de seus pares, que os avaliam conforme diferentes padrões, e sofrem mudanças imprevisíveis ao longo do tempo, conforme se alteram os gostos intelectuais (WILSON, 1983, p. 70). Nessa indústria, Wilson divide em três grandes setores: ciência (formal e natural), história (antiga e corrente) e a crítica, e posteriormente acrescenta a tecnologia como quarto grande setor.

Na indústria do conhecimento, a autoridade cognitiva não é atribuída apenas a indivíduos, mas a “autoridades institucionais”: livros, instrumentos, organizações e instituições. Para muitas pessoas, questões de ortografia, pronúncia ou significados são resolvidas quando se consulta um dicionário, considerado uma autoridade cognitiva absoluta. Instrumentos como relógios, termômetros ou barômetros são indiscutíveis para outros. Em outras situações, organizações como igrejas, governos, partidos políticos, são autoridades que independem dos indivíduos que ocupam seus cargos (WILSON, 1983, p. 81).

“Do mesmo, modo, as informações que provêem dos conhecimentos dos outros, são aceitas por nós com base na “autoridade cognitiva” não só de uma testemunha, mas também de livros, artigos e outros registros e instrumentos que são “porta-vozes” de autoridade cognitiva de seus autores ou criadores.” (GONZÁLEZ DE GÓMEZ,2007).


Indivíduos ou agentes institucionais, uma autoridade cognitiva proporciona aos produtores de conhecimento contextos de legitimação da informação, que permitem a validação por outros pares durante a avaliação em processos de busca. Esses produtos alimentam fluxos informacionais e proporcionam a ciência progresso e desenvolvimento. Na época de publicação da obra, Wilson observa que uma autoridade científica institucional tem por lócus a comunidade científica, a instituição social da ciência (WILSON, 1983, p. 82).


Algumas fontes

BOURDIEU, P. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012.

BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato (Org.). Pierre Bordieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. Cap. 4.

BOURDIEU, P. Homo academicus. Florianópolis: ed. da UFSC, 2013.

BOURDIEU, P. A Economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2008.

GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. Novas configurações do conhecimento e da validade da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 8, 2007, Salvador. Anais... Salvador: UFBA/PPGCI; Ancib, 2007. Disponível em: <http://www.enancib.ppgci.ufba.br/> Acesso em: 8 fev. 2010.

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 4. ed. atual. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.

WILSON, Patrick. Second-Hand Knowledge: and inquiry into cognitive authority. Westport, USA: Greenwood Press, 1983.

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