INFORMAÇÃO EM SAÚDE: perspectivas australianas
Baseada na abordagem da aprendizagem de Bruce (GASQUE, 2010), uma pesquisa realizada na Austrália (YATES et al., 2012) com pessoas idosas traz uma perspectiva diferenciada para a compreensão do letramento informacional em saúde. O trabalho de Yates e demais autores (2012) busca captar a experiência de índividuos da terceira idade com a informação em saúde na vida cotidiana. O método fenomenográfico utilizado no trabalho, de reconhecida utilidade tanto para o campo da saúde (FERNANDES, 2005) como para os estudos de information literacy (YATES et al., 2012), permite o registro de diferentes formas de vivência de um determinado fenômeno e o agrupamento de tais experiências, de forma a retratar o sentido coletivo do mesmo.
Assim, a referida pesquisa apresenta as experiências de informação em saúde de um grupo de pessoas com idades entre 57 e 81 anos. A partir da análise dos dados coletados, as respostas foram agrupadas em cinco categorias distintas de percepções da health information literacy (HIL) captadas no estudo. Na primeira delas, identificada como storing information, ou armazenagem de informação, enfoca-se a estocagem de informação potencialmente útil. A aprendizagem é percebida como algo intuitivo relacionado à memorização de informações para sua posterior recuperação em um momento de necessidade futura. Já na categoria managing information, ou gestão de informação, os respondentes compreendem o letramento informacional em saúde como a organização da informação de relevância imediata. Neste grupo, a aprendizagem está diretamente ligada ao procedimento estratégico de compilação de informação específica e ao controle do seu uso. Os indivíduos que compartilham de tal perspectiva agrupam informações similares e mantêm registros de seu histórico de saúde, questões e dúvidas, por exemplo, ou fazem uso da informação para avaliar e confirmar evidências e elaborar perguntas a um profissional. Na terceira categoria, tuning in to personal information, ou sintonizando informação pessoal, as experiências dos usos de informação em saúde são descritas a partir de um enfoque do próprio indivíduo como fonte de conhecimento. Nesta perspectiva, destaca-se a observação dos próprios sintomas para ajustar o estilo de vida ou um tratamento e a habilidade para a tomada de decisão com base no próprio histórico de saúde. A aprendizagem, nestes casos, está relacionada à ação de ouvir o próprio corpo ou à recordação da própria experiência. A categoria making a diference with information, ou fazendo a diferença com a informação, enfoca a influência do indivíduo sobre a própria saúde e destaca a ação livre e independente, o questionamento dos aconselhamentos e a capacidade de suplementação da informação recebida de profissionais da saúde, apontando para uma “aprendizagem empreendedora”, relacionada à habilidade de aplicar o conhecimento para uma mudança de vida. Por fim, na categoria participating in an informed community, ou participando em uma comunidade informada, a aprendizagem é colaborativa e relacionada à ação de conectar-se com outras pessoas. Destacam-se as iniciativas de obtenção de informação relevante para necessidades particulares de saúde e inclusive a provisão de informação útil para atender às necessidades de saúde de outros. Ainda segundo os resultados da pesquisa, tanto materiais impressos (livros, revistas), como testes de laboratórios, pesquisas de internet, encontros (seminários), pessoas (amigos, família, profissionais da saúde) e até o próprio corpo (sintomas, sensações, reações a tratamentos) constituem tipos de informação utilizados pelos australianos na terceira idade em seu aprendizado sobre saúde. A partir da identificação e apresentação das diferentes formas através das quais as pessoas vivenciam o letramento em informação em saúde, Yates e demais autores (2012) acreditam que é possível contribuir positivamente para a formulação das políticas públicas em saúde na Austrália. Uma vez que as características e comportamentos individuais caracterizam health determinants relevantes para a elaboração destas políticas, é importante identificar o modo através do qual as pessoas compreendem a informação, e para Yates e demais autores, os resultados da pesquisa desafiam as estratégias tradicionais de comunicação relativas à saúde pública (YATES et al., 2012, p. 10). Com base na compreensão do health information literacy como “experiência de diferentes modos de uso da informação para aprender sobre saúde” (YATES et al., 2012, p. 11, tradução nossa), policy makers, ou legisladores, podem rever políticas públicas de modo a tornar o planejamento e os mecanismos de transferência da informação em saúde mais eficazes.
Algumas fontes:
FERNANDES, Manuel Agostinho M. Introdução à fenomenografia: potencialidades de aplicação à investigação em saúde e enfermagem. Investigação em Enfermagem, n. 12, p. 3-10, ago. 2005.
GASQUE, Kelly Cristine Gonçalves Dias. Arcabouço conceitual do letramento informacional. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 39, n. 3, p. 83-92, set./dez., 2010.
YATES, Christine et al. Health Information Literacy: exploring health information use by older australians within everyday life. 2012. Disponível em: <http://eprints.qut.edu.au/49808>. Acesso em: 16 maio 2017.