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Democracia do simbólico: tópica diacrônica da filosofia da informação

Promovida (também) pela organização dos saberes na pólis do Livre, invenção mais criativa da linguagem na visão otletiana, só existe democracia, em sentido estrito, se fundada na retórica, ou seja, na coexistência paciente e conciliadora do discurso como categoria filosófica equivalente ou superior ao “ser”.

Em certa medida, a travessia do pensamento e da vida de Rafael Capurro ilustra esta relação, a partir de um hermes informacional desvelado entre discurso, democracia e informação.

No vocabulário de Rafael Capurro, o estrato deste “discurso” que nos interessa, a “mensagem”, conceito central da Angelética, sua teoria geral para uma ciência para informação, torna-se um dos elos para uma racionalidade democrática contemporânea.

Fruto, de um lado, de sua travessia filológica à busca da palavra e, por conseguinte, do conceito “informação” (aqui, de outra lado, já em sua travessia epistemológica), encontramos em Rafael Capurro o “culturalismo” necessário para iluminar, dentro do escopo informacional, o pensamento simbólico.

Em nossa visão, temos aqui a raiz epistêmica principal dos estudos simbólicos em diferentes domínios, a constituição de uma “ciência retórica”. Em 1992, Capurro destaca a presença de um paradigma hermenêutico-retórico, ligado objetivamente ao que trata como “virada pragmática” da epistemologia informacional.

A hermenêutica da qual nos fala Capurro (1992) sugere uma visão pragmática da realidade – ou uma construção sócio linguística do real a partir de um relativismo cultural. É aqui que o epistemólogo define uma “Ciência da Informação” como subdisciplina da Retórica. Seu foco está exatamente em retomar o pensamento retórico aristotélico e perceber esta condição nos estudos hoje predicados como “informacionais”.

Reencontramos em Capurro (1992, 2015) o que Todorov (2014) trata como uma “solidariedade do simbólico e da interpretação” - o “simbólico” e a “interpretação” são duas vertentes de um mesmo fenômeno, ou, ainda, que “produção” e “recepção” respondem pela mesma configuração, apesar de estarem ligadas, a princípio, a duas disciplinas diferentes, a Retórica e a Hermenêutica, respectivamente.

Em nosso olhar, trata-se de reconhecer a diacronia da Retórica na construção histórica dos estudos informacionais, e a sincronia hermenêutica como método e modo de perceber e tecer o real que constituímos simbolicamente.

Algumas fontes

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