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A teorização de uma bibliografia feminista

O trabalho, apresentado em uma conferência anual do ASECS [1], tem por objetivo realizar uma revisão da produção historiográfica em história do livro, à luz da discussão acerca do papel feminino na produção bibliográfica e na construção de narrativas neste campo de estudo.

Uma das principais questões levantadas no alicerce da pesquisa foi o reconhecimento de uma importante problemática nos estudos em história do livro, quando observado pela ótica feminina: apesar da produção significante no campo, não há uma narrativa, um estudo que propriamente seja capaz de reunir e refletir a diversidade das pesquisas sobre os trabalhos elaborados por mulheres. Em sua análise, a autora enfatiza que a frase “women’s book history” (“história do livro feminina”, em uma possível tradução), bem como suas expressões similares, pouco são recuperadas em artigos e coleções em geral, observando-se também a falta de um vocabulário estruturado adequado que auxilie na recuperação desses documentos. Assim, Ozment (2017) observa que, ao questionar se “as mulheres têm uma história do livro?”, a resposta acaba por ser um outro questionamento, bem mais complexo: “o que é uma história do livro feminina?”. Isso implica a busca pela compreensão de sua definição, funções, objetivos e possibilidades de investigação; bem como a reflexão de qual seria o seu papel na redefinição das maneiras como são estudadas as questões de autoria e texto na atualidade.

Um caminho trilhado pela autora na construção de seu argumento foi a análise da historiografia da história do livro pela constituição da visão mais ampla do campo (“mainstream”), que serve como um norte introdutório para a realização de estudos e discussões posteriores. Ozment (2017) observa que, embora exista uma discussão acerca da história do livro, ela é frequentemente realizada da mesma maneira, citando os mesmos grupos de estudiosos na área. Se, por um lado, existe a necessidade de formar um breve conhecimento introdutório acerca de um campo do conhecimento para que se possa desenvolver estudos posteriores, essa mesma brevidade acaba por privilegiar limitadas discussões de intencionalidade, autoridade e autoria.

Analisando a maneira como é feita a construção de narrativa na história do livro, a autora propõe um viés chamado “feminist biblioghaphy” (“bibliografia feminista”), uma alternativa à bibliografia masculina que, de forma geral, não perpassa por críticas quanto à sua natureza – isto é, o conhecimento está normalmente fundamentado em teorias propostas e desenvolvidas por um único grupo demográfico, autores masculinos e brancos. Assim, a autora argumenta que, se a base dos estudos em história do livro demonstra um problema em relação à diversidade, para existir uma história do livro diversificada, é preciso então realizar uma revisão desta mesma base.

Essa é uma discussão que atravessa, para além da autoria, as formas como os textos são selecionados, editados e publicados, bem como suas percepções construídas em determinado grupo social – a disseminação textual assim pode ser analisada, por exemplo, em seu cruzamento com as questões de gênero e sexualidade, o que reflete as ideologias e construções discursivas de determinada época. O texto de Ozment (2017) ainda se trata de um passo inicial numa vasta discussão que reflete o caráter dos estudos da construção de narrativa da ciência na atualidade. A questão do papel do feminino levanta a necessidade de se repensar as maneiras de se observar a atual narrativa estabelecida no campo da história do livro, quais novos caminhos podem ser explorados, quais novos olhares podemos oferecer em busca de uma diversidade bibliográfica e novas construções narrativas. Para além disso, resta a reflexão de quais outros campos do conhecimento relacionados à Biblioteconomia e à Ciência da Informação seria possível realizar a mesma reflexão e desconstrução discursiva dos fundamentos basilares de suas constituições.

[1] American Society for Eighteenth Century Studies. Disponível em: <https://asecs.press.jhu.edu> . Acesso em: 10 set. 2017.

OZMENT, Kate. Book history, women and the canon: theorizing feminist bibliography. In: ANNUAL CONFERENCE OF AMERICAN SOCIETY FOR EIGHTEENTH CENTURY STUDIES, 13., 2017, Minneapolis. Proceedings… Minneapolis: [s.n], 2017. Disponível em: <https://hcommons.org/deposits/item/hc:11751/>. Acesso em: 10 set. 2017.

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