top of page

O conceito nu e em movimento

Designações impróprias e a vida social da-na organização do conhecimento...

Se a “lente” permitida pela abordagem analítica de Dahlberg nos conduz ao conceito “assim como ele é” na visão de um dado grupo de interlocutores no espaço-tempo, a ênfase dos loci epistêmicos nos leva ao plano da relação que avança do espaço-tempo para (re)compreender os modos (locais) de constituição do conceito, o onde-como-quando se constitui dada elaboração conceitual.

Como aponta Nietzsche (1999), em seu Curso de Retórica,

"Entre os mais importantes artifícios da retórica contam-se os tropos, as designações impróprias. Mas todas as palavras são em si e desde o começo, quanto à sua significação, tropos. Em vez do que verdadeiramente tem lugar, instalam uma massa sonora que se dirija no tempo: a linguagem nunca exprime nada em sua integridade, mas exibe somente uma marca que lhe parece saliente." (NIETZSCHE, 1999, p. 46, grifo nosso)

Os lugares-comuns lançam, pois, um olhar sobre uma dada “primitividade” do conceito, bem como sua vivência na atualidade contingencial que fundamenta sua delicada estrutura orgânica, sua espaço-temporalidade sempre em risco. Aqui, mais uma vez, a noção de espaço e a noção de tempo não tem equivalência absoluta com questões de extensão-duração. Antes, o plano teórico de tal enfoque de cultura discursiva instaura a condição de uma potencial compreensão dos ambientes socioculturais de manifestação de um dado conceito e de seus modos de repercussão e de apropriação.

No entanto, os processos de contextualização que marcam as abordagens discursivas não se sustentam somente na e para a linguagem propriamente dita. Os discursos estão posicionados, estão situados em um espaço-tempo historicizado por um conjunto de determinações sociais. Assim, a disposição, por exemplo, do conceito de “linguagem documentária” dentro do capítulo de uma tese não representa um “lugar propriamente dito”, ou, ainda, o seu locus epistêmico. Esse é apenas uma parte de seus loci, um objeto na paisagem.

As dinâmicas dos loci epistêmicos demonstram que a construção de um “lugar” é pautada por uma rede de condições do discurso, que são manifestadas, empiricamente, por características como instituição, titularidade, gênero, classe social, capital financeiro, trajetória teórica. O lugar de um conceito é apenas a aparente figuração espacial de um movimento constante, a nossa (in)capacidade de ver a dança na imobilidade.

REFERÊNCIA

ALMEIDA, T.; SALDANHA, G. S. Entre a abordagem analítica e os loci epistêmicos: um debate metametodológico para a organização do conhecimento In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 2017, Marília. Anais do XVIII Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação. Marília: PPGCI UNESP, 2017. p.1 - 20.

Outras fontes

BARITÉ, Mario et al. Garantia literária: elementos para uma revisão crítica após um século. Transinformação, Campinas, v. 22, n. 2, 2010.

BARTHES, Roland. A aventura semiológica. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

CAFÉ, Lígia Maria Arruda; BRATFISCH, Aline. Classificação analítico-sintética: reflexões teóricas e aplicações.Transinformação, Campinas, v. 19, n. 3, 2007.

CAMPOS, Maria Luiza de Almeida. Linguagem documentária: teorias que fundamentam sua elaboração. Niterói: EdUFF, 2001.

CAPURRO, R. What is Information Science for? a philosophical reflection In: VAKKARI, P.; CRONIN, B. (Ed.). Conceptions of Library and Information Science; historical, empirical and theoretical perspectives. In: International conference for the celebration of 20th anniversary of the department of information studies, University of Tampere, Finland.1991. Proceedings... London, Los Angeles: TaylorGraham,1992. p. 82-96.

CAVALCANTE, Raphael da Silva; BRÄSCHER, Marisa. Taxonomias navegacionais em sítios de comércio eletrônico: critérios para avaliação. Transinformação, Campinas, v. 26, n. 2, 2014.

DAHLBERG, I. Conceptual definitions for interconcept. International Classification, v. 8, n. 1, p. 16-22, 1981.

_____. Knowledge Organization: a new Science? Knowledge Organization.v. 33, n.1, p.11-19, 2006.

_____. Knowledge organization: its scope and possibilities. Knowledge Organization, v. 20, n. 4. p.211-222, 1993.

_____ I. A Referent-oriented analytical concept theory of interconcept. International Classification, Frankfurt, v.5, n.3, p.142-150, 1978.

_____. Terminological definitions: characteristics and demands. In: Problèmes de la définition et de la synonymie en terminologie. Québec, GIRSTERM, 1983. p. 13-51.

ECO, Umberto. Semiótica e Filosofia da Linguagem. Lisboa: Instistuto Piaget, 2001.

Folksonomia: esquema de representação do conhecimento? Mariana Brandt; Marisa Brascher; Basílio Medeiros.Transinformação, Campinas, v. 22, n. 2, 2010.

FOUCAULT, M. As Palavras e as coisas: uma arqueologia das ciências humanas. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

FREITAS, Juliana Lazzarotto; NASCIMENTO, Bruna Silva do; BUFREM, Leilah Santiago. A organização do conhecimento na dinâmica da pesquisa em artigos da literatura científica da Brapci. Transinformação, Campinas, v. 26, n.3, 2014.

FUJITA, Mariângela S. L. Organização e representação do conhecimento no Brasil: análise de aspectos conceituais e da produção científica do Enancib no período de 2005 a 2007. Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, v. 1, n. 1, p. 1-32, 2008. Disponível em: <http://basessibi.c3sl.ufpr.br/brapci/v/a/7781>. Acesso em: 28 fev. 2017.

FUJITA, Mariângela Spotti Lopes; SANTOS, Luciana Beatriz Piovezan dos. Política de indexação em bibliotecas universitárias: estudo diagnóstico e analítico com pesquisa participante. Transinformação, Campinas, v. 28, n. 1,2016

GARCÍA GUTIÉRREZ, Antonio. Epistemología de la Documentación. Barcelona: Stonberg Editorial, 2011.

GARCÍA GUTIÉRREZ , Antonio. Cientificamente favelados: uma visão crítica do conhecimento a partir da epistemografia. Transinformação, Campinas, v. 18, n. 2, 2006.

HJORLAND, B. What is Knowledge Organization (KO)? Knowledge Organization, v.35, n. 2-3, p. 86-101, 2008.

KOBASHI, Nair Yumiko; SANTOS, Raimundo Nonato Macedo dos. Institucionalização da pesquisa científica no Brasil:cartografia temática e de redes sociaispor meio de técnicas bibliométricas. Transinformação, Campinas, v. 18, n. 1, 2006.

NIETZSCHE, F. Da retórica. 2..ed. Lisboa: Vega, 1999.

TESSER, Gelson João. Principais linhas epistemológicas contemporâneas. Revista Educar, Curitiba, n. 10, dez.1994, p. 91-98. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601994000100012&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 mar. 2017.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page