top of page

Zubiri na Ciência da Informação: traçados possíveis

Em Zubiri encontramos ideias originais sobre questões que a filosofia vem debatendo acerca das noções de inteligência e realidade (FERRAZ, 2005). Frente à tradicional dissociação entre sensibilidade e inteligência que está na base das correntes de pensamento empirista e racionalista, Zubiri, a partir de uma análise do sentir de cunho fenomenológica, propõe a ideia de inteligência senciente (ZUBIRI, 2011a; 2011b; 2011c; FERRAZ, 2005).

Nessa concepção, “não existiriam dois actos, um de sentir e outro de inteligir, mas sim um único ato unitário de sentir no qual a intelecção se realiza no ato mesmo do sentir (intelecção senciente). Inteligir, ao contrário de apenas conceber conceitos (inteligência concipiente) é apreender algo como e enquanto real, e, a realidade é aquilo que queda , formalmente, no ato da apreensão enquanto “de suyo” ( aquilo que, formalmente apreendido, no ato da sua apreensão, possui características e propriedades próprias).

Nessa abordagem, a relação de realidade e conhecimento não se fundamentará no idealismo moderno (Descartes até Hegel), ou mesmo, na objetividade da consciência (Husserl), no ser (Heidegger) ou no giro lingüístico. Para Zubiri, em todas essas abordagens filosóficas, há uma dicotomia e uma dualização do sentir e do inteligir que culminam na entificação da realidade e do homem, transformando-o ora em sujeito, ora em objeto. Nestas o homem seria fundamentalmente um “animal racional”, cuja faculdade primaria é conceber.

Frente à primordialidade dos conceitos o autor propõe a “inteligência senciente”, sustentando que a inteligência não é uma faculdade da razão, mas sim o produto de uma apreensão da realidade pelo fato do sentir humano. Nesse processo, sentir e inteligir se fazem em um só e único ato de apreensão “senciente”, onde, as coisas, enquanto realidades estimulantes são dadas, primordialmente, ao homem de forma sensitiva.

Dessa forma, será o poder do real na sua unidade intrínseca entre realidade e inteligência (anterioridade estrutural da coisa-realidade à coisa-sentido) que se constituirá o objeto do pensar e a essência mesma da filosofia e das próprias ciências (VARGAS, 2016). Será a partir da congeneridade da inteligência e realidade que o inteligir se expande em três estágios ou momentos: apreensão da realidade; logos; e, razão (ZUBIRI, 2011a, 2011b, 2011c).

Eis aqui a novidade da proposta zubiriana que, sem negar a importância do conhecimento, alerta que este não deve ser apenas tido como um conteúdo e um produto haurido de definições, categorias, explicação de eventos objetivos (ciências nomológicas da natureza) ou mesmo da interpretação dos sentidos intersubjetivos atribuídos as falas, crenças e valores dos indivíduos (COSTOYA, 2004), mas sim, ter em conta que estes, dada a questão antropológica primordial (homem animal de realidades) evidenciada pela descrição de cunho fenomenológico dos momentos que compõem a inteligência humana – noologia zubiriana - devem ser compreendidos, para uma melhor fundamentação e rigor na produção do conhecimento (ZUBIRI, 2011a).

Com essa noção, Zubiri faz frente tanto à questões da relação entre o conhecimento científico e conhecimento metafísico, bem como o fundamento de suas verdades. Abre-se, pois, o caminho para um conjunto de traçados para as relações entre saber, informação científica e formas de percepção do mundo informacional, bem como de apropriação e disseminação do conhecimento.

REFERÊNCIA

SANTOS, A. T. C. ; Miguez, G. . A Ciência da Informação enquanto ciência social interdisciplinar: as contribuições de Zubiri e Bourdieu. In: Elaine Rosangela de Oliveira Lucas, Murilo Artur Araújo da Silveira. (Org.). A Ciência da informação encontra Pierre Bourdieu. 1ed.Recife: Editora Universitária UFPE, 2017, v. , p. 439-454.

Outras fontes

ARAÚJO, Carlos Alberto A. A ciência da informação como ciência social. Ciência da informação, Brasília, v. 32, n. 3, p. 21-27, 2003.

_____. O que é Ciência da Informação?. Informação & Informação, v. 19, n. 1, p. 01-30, 2013.

BALLESTA, Pedro Abellán La Dedicación del Hombre a la Vida Intelectual Revista Portuguesa de Filosofia T. 69, Fasc. 1 (2013), pp. 165-180

BORKO, Harold. Information science: what is it? American Documentation, Washington, v. 19, n. 1, p. 3-5, jan. 1968.

BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, Renato. Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, p. 122-155, 1983.

____. Cosas dichas. Barcelona: Gedisa, 1988

_____. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Russel, 2002.

_____. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia do campo científico. São Paulo: Ed. Unesp, 2004.

_____. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Ed. da UNESP, 2004.

_____; WACQUANT, Louis. An invitation to reflexive sociology. Chicago: The University of Chicago Press, 1992.

_____; _____. Una invitación a la sociología reflexiva. Siglo XXI Editores, 2005.

BORKO, Harold. Information science: what is it? American Documentation,Washington, v. 19, n. 1, p. 3-5, jan. 1968.

CAPURRO, Rafael. Epistemologia e ciência da informação. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 5., 2003, BeloHorizonte. Anais... Belo Horizonte: Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduaçãoem Ciência da Informação, 2003.

_____. Pasado, presente y futuro de la noción de información. In: ENCUENTRO INTERNACIONAL DE EXPERTOS EM TEORÍAS DE LA INFORMACIÓN, 1, 2009. Anais... Leon: Universidad de Leon, 2008.

CORRÊA, Maria Amelia Ayd. Notas sobre Bourdieu e a produção do conhecimento. Revista Vértices, 2010, v. 5, p. 33-42, 2010.

COSTOYA, Manuel Mejido. Beyond Nomological, Hermeneutic, and Dialectical Knowledge: Zubiri’s Radicalization of Scholastic Realism and the Hidden Ground of the Human-Social Sciences. The Xavier Zubiri Review, Vol. 6, 2004, pp. 61-71.Disponível em: http://www.zubiri.org/general/xzreview/2004/web/mejido_2004.pdf . Acesso em 19 set. 2014.

EGAN, Margareth E.; SHERA, Jesse H. ; Foundations of a theory of bibliography. Library Quarterly, v.22, n.2, p.125-137, 1952.

FERRAZ, Antonio. Filosofía, ciencia y realidad: apuntes zubirianos. The Xavier Zubiri Review, v. 7, 2005.

GIBERT GALASSI, Jorge. Perspectivismo y verdad en sociología: Bourdieu y Giddens. Cinta moebio, Santiago , n. 52, p. 69-78, marzo 2015 . Disponible en <http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-554X2015000100006&lng=es&nrm=iso>. accedido en 08 mayo 2017. http://dx.doi.org/10.4067/S0717-554X2015000100006.

GONZALEZ DE GOMEZ, Maria Nélida. Para uma reflexão epistemológica acerda da Ciência da Informação. Perspectivas em Ciência da Informação, v. 6, n. 1, 2001.

GUERRERO ANAYA, Luis José. Fundamento y funcionalidade de la ciência em Pierre Bourdieu y Xavier Zubiri. Jalisco, 2006. Dissertação (Mestrado em Filosfia Social) – Departamento de Filosofia e Humanidades, Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Occidente (ITESO), 2006.

MARTELETO, Regina; SALDANHA, Gustavo. Informação: qual o estatuto epistemológico? In: MORIGI, Valdir; Jacks, Nilda; GOLIN, Cida (Org.). Epistemologias, comunicação e informação. Porto Alegre: Sulina, 2016. P. 69-89

MELOGNO, Pablo. Epistemología de las ciencias de la información: una perspectiva no fundacionista. Palabra clave, Ensenada , v. 2, n. 2, p. 11-23, abr. 2013 . Disponible en <http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1853-99122013000100002&lng=es&nrm=iso>. accedido en 02 mayo 2017.

MOSTAFA, Solange Puntel. Epistemologia da Biblioteconomia. Tese (Doutorado em Educação),Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo: [s.n], 1985. 140 f.

_____. Enfoques paradigmaticos da bibliotecología: unidade na diversidad ou diversidad na unidad. Investigación Bibliotecológica, v. 10, n. 21, p. 18-21, 1996.

_____. Ciência da Informação e suas relações com outras áreas. 2005. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL. Marília, 2005. Anais... Disponível em: <https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/CEDHUM/texto03.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2017.

SCARTEZINI, Natalia. Introdução ao método de Pierre Bourdieu. Cadernos de Campo: Revista de Ciências Sociais, v. 14, 2011.

SHERA, Jesse. The Foundations of Education for Librarianship. New York: Beckerand Hayes, 1972.

Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
Siga
bottom of page